Restrição Calórica x Hayflick

Publicado em 02.03.2013 - atualização em 2016 e 2020 (no final) 

 

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Atualmente quando se fala em longevidade não há como ignorar, também, a chamada Restrição Calórica, que consiste em uma dieta balanceada com todos os nutrientes necessários e com significativa redução das calorias. A Restrição Calórica teve sua estréia no palco oficial dos estudos sobre envelhecimento em 1934 com os estudos científicos pioneiros de McCay e colaboradores na Cornell University. Hoje é consenso científico mundial que a Restrição Calórica exerce efeitos benéficos sobre a saúde e a longevidade. Por tratar-se de questão também alimentar está intimamente associada à questão dos radicais livres e um suposto mecanismo de sua ação considera a redução do ritmo de formação dos Radicais Livres. Este suposto mecanismo, em minha opinião, está correto, como vimos em texto anterior sobre a inocência do oxigênio. Porém, esta suposição carrega o raciocínio de que a restrição calórica implica em menor taxa metabólica, com menos queima de glicose, e sendo a queima de glicose consumidora de oxigênio, e sendo este o responsável oficial pela formação de radicais livres, menos radicais livres implicariam em menos envelhecimento em mais tempo, estendendo assim o tempo de longevidade máxima. Penso que esta questão ficou parcialmente bem esclarecida no texto anterior sobre o oxigênio.

 

Pois bem, o que mais nos dizem os pesquisadores da gerontologia a respeito da restrição calórica? O que mais falta esclarecer, já que coloquei acima que ficou “parcialmente bem esclarecida”? Dou a palavra a Hayflick:

 

“Os cientistas não descobriram nenhuma outra forma mais eficaz de retardar o ritmo de envelhecimento ou aumentar a longevidade em animais de sangue quente além da subnutrição sem desnutrição. Tampouco conhecemos uma forma mais eficaz de adiar ou eliminar tantos tipos de câncer e outras doenças”. (Como e por que envelhecemos, Hayflick, pág. 274).

 

O livro de Hayflick foi publicado em 1994. Hoje já sabemos que manipulações genéticas em animais, de sangue quente ou não, também alteram a longevidade. Não estamos, porém, tratando por ora, da questão genética. Em que consiste restrição calórica senão em ingerirmos menos alimentos? Se ingerimos menos alimento ingerimos também menos tóxicos e menos tóxicos levam à formação de menos MSH (Moléculas Suscetíveis de Hayflick). Vamos colocar isso na EBV (Equação Básica da Vida) modificada que vimos em texto precedente:

 

SA + OXIGÊNIO + MSH = ATP + CO2 + H20 + n(RL)

 

Assim, sabendo que as MSH estão, principalmente, junto com o SA, a equação pode tomar a seguinte forma:

 

(SA + MSH) + OXIGÊNIO = ATP + CO2 + H20 + n(RL)

 

Observemos como fica fácil entender, com a equação acima, a questão da restrição calórica. Se diminuímos no primeiro termo da equação o reagente [gerador de n(RL) no segundo termo], só poderá haver a conseqüência da diminuição da quantidade de RL gerados, isto é, o valor “n” será diminuído. Menos RL implicam em menos danos celulares e teciduais e como conseqüência também menos danos nos diversos órgãos da economia corporal. Órgãos menos danificados funcionam melhor e se traduzem no corpo em melhor saúde e menos disfunções (doenças) e o corolário final será o aumento de longevidade. A dieta preconizada pelos gerontologistas não é uma “dieta mais saudável” com verduras e frutas e redução de carboidratos vazios (refinados) e gorduras? Uma dieta mais saudável não implica em menos toxicidade? Menos toxicidade não implica em menos MSH, que sendo a matéria prima principal dos RL, não implica em menos RL que por sua vez implica em mais saúde, longevidade e qualidade de vida? Isso tudo já vimos.

 

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Mas, aprofundando um pouco mais, vamos raciocinar com o auxílio de experiências científicas já realizadas e aceitas pela comunidade gerontológica. Assim sendo, vejamos a resposta dada por Hayflick à pergunta “Como funciona a restrição calórica?” (Haiflick – idem acima – págs. 274-275). Após formular a pergunta, nos diz que “Apesar de intensas pesquisas ainda não se conhece bem o mecanismo através do qual a restrição calórica funciona” (negritos meus). Vejamos textualmente com suas próprias palavras:

 

“Uma abordagem que gerou resultados importantes tentou responder à seguinte pergunta: O aumento da longevidade pode ser atribuído à restrição calórica pela redução do consumo de energia ou pela redução de algum componente específico da dieta? Edward Masoro, Byung P. Yu e Colegas da Universidade do Texas mostraram claramente que a ação antienvelhecimento da restrição alimentar deve-se ao consumo reduzido de energia, e não ao consumo reduzido de algum componente ou contaminante específico na alimentação (negritos meus). Esses pesquisadores acreditam que os níveis sanguíneos de glicose são a chave para a compreensão do mecanismo. Seu raciocínio é o seguinte: a glicose metabolizada a partir dos carboidratos nos alimentos, é a principal fonte de combustível de todas as células animais. Masoro descobriu que, embora os animais em dietas com restrições de calorias e sem restrição de calorias queimem a mesma quantidade de glicose por grama de tecido (negritos meus), a concentração de glicose na corrente sanguínea dos animais em dieta de restrição calórica é muito menor. Ele acredita que essa menor quantidade de glicose na corrente sanguínea é benéfica, pois alguns dos produtos do metabolismo da glicose interagem com importantes enzimas, proteínas e até com o DNA dos genes, danificando-os ou desativando-os”

 

Parece-me que o texto de Hayflick acima apresenta contradições. Nos diz que Masoro, Yu e colegas mostraram claramente que a ação antienvelhecimento da restrição alimentar deve-se ao consumo reduzido de energia. Mais adiante nos diz que Masoro descobriu que animais em dietas com restrições de calorias e sem restrição de calorias queimam a mesma quantidade de glicose por grama de tecido. Ora, a primeira afirmação, consumo reduzido de energia é frontalmente oposta à segunda, de que queimam a mesma quantidade de glicose por grama de tecido. Se queimam a mesma quantidade de glicose por grama de tecido, é porque não há consumo reduzido de energia! No texto Hayflick emenda a segunda afirmação à colocação de que a concentração de glicose na corrente sanguínea dos animais em dieta de restrição calórica é muito menor, dando importância a esta afirmação como se fosse esta concentração que mostrasse que o consumo de energia encontra-se reduzido! Ora, o que nos fala realmente da quantidade energética utilizada é a quantidade de glicose queimada por grama de tecido, pois é esta queima que libera a energia das ligações químicas, e não a concentração sanguínea da glicose. Na seqüência ao texto que reproduzi acima Hayflick diz que os radicais livres altamente reativos são produzidos quando o oxigênio é usado nos processos metabólicos, como já dissera antes em outro local. Ora, o processo metabólico é intra-celular, nas mitocôndrias das células dos diversos tecidos, e não na corrente sanguínea. Temos aqui, portanto, um equívoco, ou de Masoro e colegas, ou na interpretação de seu trabalho por Hayflick. Colocando de outra forma: os trabalhos de Masoro, Yu e colegas mostraram exatamente o contrário do que coloca Hayflick, ou seja, de que na restrição calórica não há consumo reduzido de energia. O que há é melhor rendimento da EBV em função do aporte diminuído de tóxicos que acompanha a restrição calórica. As razões, na minha interpretação, para equívocos científicos deste calibre na questão do envelhecimento, já as coloquei no meu primeiro trabalho (Desenvelhecimento, págs. 231-236 e págs. 73-90). No momento o que me interessa é analisar os resultados da pesquisa de Masoro e colaboradores à luz das equações que desenvolvi acima. Vejamos:

 

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GLICOSE + MSH + OXIGÊNIO = ATP + CO2 + H20 + n(RL)

 

Masoro e colaboradores pesquisaram e descobriram, na realidade, que não há consumo reduzido de energia. A energia vem da glicose, logo a quantidade de

glicose consumida é a mesma. A mesma quantidade de glicose exige a mesma quantidade de oxigênio. O único elemento que temos além da glicose e do oxigênio no primeiro termo da equação são as MSH, isso já as torna elementos altamente suspeitos, já que estamos procurando um responsável entre três e os outros dois foram inocentados. No segundo termo da equação temos o ATP que como mostra a pesquisa de Masoro e colaboradores, não sofreu alteração na quantidade, nem poderia, já que é derivado da glicose e do oxigênio, que permaneceram constantes. O CO2 e a H20 são resíduos, como já vimos, elimináveis ou reaproveitáveis. O que varia aqui no segundo termo é justamente a quantidade de radicais livres, ou seja, o valor de “n” em n(RL). Simplesmente não existe como não responsabilizar as MSH no primeiro termo pelo aumento de radicais livres no segundo termo, de acordo, agora, não apenas com minhas equações mas também de acordo com as pesquisas de Masoro e colaboradores.

 

Já vimos também que a glicose vem do SA que vem acompanhado de contaminantes alimentares, conforme procurei deixar bem claro em meu primeiro trabalho (e também conforme diversos outros autores, por exemplo, Ray Kurzweil e Terry Grossman em “A Medicina da Imortalidade” – Editora Aleph), que se traduzem a nível molecular, no interior das células e das mitocôndrias, nas Moléculas Suscetíveis de Hayflick. Assim, a compreensão, digamos num nível macroscópico, da questão nutricional colocada em Desenvelhecimento é ratificada pela compreensão celular molecular do processo metabólico respiratório mitocondrial, ou seja, a nível microscópico. A propósito da questão alimentar, há livros atuais (Medicina da Imortalidade – pág. 28, a obra de Randall Fitzgerald, Cem anos de mentira, editora Idéia & Ação, 2008 – citando só dois exemplos) que batem na mesma tecla, já quase quebrada de tanto ser batida, de que a nutrição recebe pouquíssima atenção nas escolas de Medicina dos EUA. Como os EUA fazem escola para o mundo, não fica nada difícil extrapolar a crítica para o resto do mundo ocidental.

 

Para finalizar, fica apenas, na minha opinião, uma interrogação no ar: Hayflick realmente não compreendeu a questão, ou por algum motivo, compreendeu e preferiu fazer de conta que não compreendeu? A posição oficial dele, colocada logo no início de sua obra (Pág. XXVIII), após considerações de que a questão do aumento da longevidade no máximo possível, com qualidade de vida, estava sendo a base de um acalorado debate (em 1994) - (negritos meus), aliada às colocações de que o debate era em torno de qual seria a qualidade de vida aceitável, e de quem deveria tomar esta decisão (negritos meus) nos faz pensar no que acontece nos bastidores da ciência.

 

Pois bem, em seguida às considerações ele se posiciona: “Outros, dentre os quais me incluo, acreditam que aumentar o tempo de vida do ser humano provavelmente não é possível nem desejável”. Mas, num evidente sinal de uma certa ambigüidade, numa posição “em cima do muro”, já tinha colocado à página XXI, a frase “Se conseguirmos retardar o envelhecimento, vamos nos confrontar com muitas questões extremamente difíceis, e acredito fortemente que todos nós precisamos começar a considerar as conseqüências desde já(negritos meus). Desde aquele “já” hayflickiano, 20 anos já se passaram*.

 * 23 anos já se passaram, atualização de fevereiro de 2016 ** 

** 27 anos já se passaram, atualização de dezembro de 2020 

 

ENVELHECER DEIXARÁ DE SER O ÚNICO MEIO DE VIVER MUITO TEMPO.

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