Mitos do Envelhecimento

Publicado em 10.03.2013

 

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“O MITO DOS ANTIOXIDANTES” é o título de matéria da Scientific American Brasil de março deste ano de 2013, páginas 74-79. O texto trata do questionamento de uma noção consagrada (um dogma) no estudo do envelhecimento, a idéia de que o dano oxidativo provoca envelhecimento e de que vitaminas podem preservar a juventude, ou mais precisamente, retardar o envelhecimento, que é o embasamento das terapias anti envelhecimento em voga, ao lado das terapias hormonais, também para retardar o envelhecimento. A respeito destas, hormonais, vale lembrar que o Conselho Federal de Medicina se posicionou recentemente, contra, proibindo sua prática. Vejamos o conteúdo da matéria:

 

Em 2006 David Gems, do Institute of Healthy Aging da University College London, manipulou geneticamente vermes nematódeos para deixarem de produzir certas enzimas que agem como antioxidantes naturais, desativando os radicais livres. O resultado esperado era que os níveis de radicais livres disparariam e provocariam reações oxidativas potencialmente prejudiciais em todo o organismo. Mas, ao contrário das expectativas de Gems, os vermes mutantes não morreram prematuramente, viveram o mesmo tempo que os não manipulados geneticamente. Gems ficou intrigado e pediu a outro pesquisador para verificar os resultados e repetir a experiência. Seu colega ratificou seu experimento: não houve morte prematura.

 

De 2001 a 2009 Arlan Richardson, do Barshop Institute for Longevity and Aging Studies do Health Science Center da University of Texas, em San Antonio, estudou 18 raças de camundongos geneticamente modificados, algumas das quais produziam mais enzimas antioxidantes que o normal, e outras produziam menos. A suposição era de que os camundongos com antioxidantes adicionais viveriam mais do que aqueles sem as enzimas antioxidantes. Não houve diferença.

 

Praticamente na mesma época de Richardson, Rochelle Buffenstein debruçou-se 11 anos sobre o rato-toupeira-pelado, um roedor que consegue viver cerca de 8 vezes mais que seus parentes de porte semelhante. Ela verificou que os ratos-toupeiras-pelados exibiam níveis mais baixos de antioxidantes naturais que seus parentes e ainda acumulavam mais danos oxidativos nos tecidos em idade mais prematura que os outros roedores. Apesar disso, paradoxalmente, então, viviam livres de doença e morriam em idade muito avançada.

 

Outros experimentos, ao longo da última década, projetados para sustentar ainda mais a idéia de que os radicais livres e outras moléculas reativas levam ao envelhecimento, têm demonstrado exatamente o contrário.

 

E ainda, para complicar um pouco mais, em determinados contextos, os tais radicais livres se mostraram úteis e saudáveis, ativando mecanismos de defesa intrínsecos do organismo. Os resultados destas verificações colocam em xeque o senso comum de tomar altas doses de vitaminas antioxidantes, práticas comuns em determinados meios gerontológicos, adotada inclusive por muitos pesquisadores de renome.

 

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Siegfried Hekimi, biólogo da McGill University, criou vermes geneticamente modificados que eram superprodutores de um radical livre específico, o superóxido. Com isso previu que os vermes morreriam jovens. Para sua surpresa, os vermes não desenvolveram altos níveis de dano oxidativo e viveram, em média, 32% mais que os vermes normais. De novo, para complicar, o tratamento destes vermes superprodutores de superóxido com a vitamina C, antioxidante, impediu o aumento da duração da vida. Publicou seus estudos em 2010.

 

Em outro experimento Hekimi expôs vermes normais, desde o nascimento, a toxinas geradoras de radicais livres. Os vermes expostos às toxinas viveram 58% mais que os vermes não expostos. De novo, alimentar os vermes expostos às toxinas com antioxidantes, extinguiu o tempo adicional de vida de 58%.

 

Em abril de 2012 Hekimi e colegas demonstraram que mesmo extinguindo ou desativando todos os 5 genes que codificam enzimas do anti oxidante superóxido-dismutase em vermes, isto não exercia nenhum efeito sobre o tempo de vida deles.

 

Simon Melov, do Buck Institute for Reserach on Aging em Novato, Califórnia, acredita que os radicais livres podem ser benéficos em alguns contextos e perigosos em outros.

 

Então, se os radicais livres se acumulam durante o envelhecimento mas não necessariamente o provocam, qual a sua função e efeitos? Hekimi pondera que “na verdade eles integram o mecanismo de defesa”. Desta perspectiva, poderiam ser úteis em pequenas quantidades e danosos em grandes quantidades.

 

Num estudo de 2009, Michael Ristow, professor de nutrição da Universidade Friedrich Schiller de Jena, na Alemanha, num estudo com atletas, descobriu que “os praticantes de exercícios que não tomaram vitaminas eram mais saudáveis que os que tomaram”.

 

Em 2010 na Universidade da Califórnia e na Universideade de Ciências e Tecnologia de Pohang, na Coréia do Sul, cientistas informaram que alguns radicais livres ativam um gene chamado HIF-1, responsável pela ativação de vários genes envolvidos no reparo celular, entre os quais um que ajuda na reparação de DNA que sofreu mutações.

 

Outra pesquisadora, Beth Levine, microbióloga de Southwestern Medical Center da University of Texas, mostrou que o exercício também aumenta um processo biológico chamado autofagia, em que as células reciclam pedaços gastos de proteínas e outros produtos subcelulares. Pois bem, e quais as ferramentas que são utilizadas para digerir e desmontar as células antigas? Os radicais livres, para complicar, mais uma vez. E como complicação pouca é bobagem, “a pesquisa de Levine indica que a autofagia também reduz o nível total de radicais livres, sugerindo que os tipos e as quantidades de radicais livres em diferentes partes da célula podem desempenhar vários papéis, dependendo das circunstâncias”.

 

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Então, conclui a matéria, “se os radicais livres não são sempre ruins, os seus antídotos, antioxidantes, podem não ser sempre benéficos”. De fato, em 2007, segundo publicação do Journal of the American Medical Association, uma revisão sistemática de 68 ensaios clínicos, mostrou que suplementos antioxidantes não reduzem risco de morte. A mesma revisão, limitada a ensaios menos portadores de vieses (tendências, pré disposições dos autores) demonstraram que certos antioxidantes estavam associados a risco aumentado de morte, em alguns casos chegando a 16% a mais.

 

 

COMENTÁRIOS DESTE AUTOR

 

Parece que este novo século recém iniciado está vindo para reciclar conceitos científicos, e derrubar, entre outros, os mitos, ou dogmas, acerca do envelhecimento.

 

Primeiramente, em novembro de 2010, em HARVARD, caiu por terra o mito atávico de que o envelhecimento era um fenômeno biológico natural, intrínseco e irreversível, pelo menos nos mamíferos, quando Ronald DePinho e equipe, do Instituto de Câncer Dana Faber, conseguiram a proeza, embora não planejada, de reverter o envelhecimento num grupo de ratos geneticamente modificado.

 

Agora, evidências estão se acumulando a respeito da Teoria dos Radicais Livres como causadores do envelhecimento, teoria reinante desde a década de 1950, quando foi proposta por Denham Harman, da Universidade da Califórnia, em Berkeley.

 

Uma incógnita científica de nível molecular, que parecia estar resolvida, pelo menos parcialmente, está se revelando “mais incógnita” do que se supunha, lançando no meio acadêmico a pergunta: o quê, realmente, a nível molecular, causa ou causam o envelhecimento? Ou, que outras variáveis existem atuando em conjunto, de modo sinérgico ou contrário, aos radicais livres? Novas pesquisas, novas descobertas, novas perguntas, assim caminha a ciência.

 

Em que estas novas descobertas interferem no Projeto Desenvelhecer? Em nada, pois este projeto está completamente embasado e alicerçado numa compreensão macroscópica, comportamental, da questão do envelhecimento. E esta questão comportamental, ativando mecanismos epigenéticos que atuam sinergisticamente, atinge de forma certeira os mecanismos moleculares envolvidos, que atuam em cascata, sejam eles quais forem. Exemplificando com um exemplo já visto nesta série de artigos (O Verbo Mágico), não importavam os mecanismos moleculares envolvidos no exemplo do Sr. Wright, ele os ativava, ou desativava, com seu pensamento (crença). E as abelhas? Elas não fazem ciência, não pensam, simplesmente se comportam ... e desenvelhecem. Simples assim. Sermos seres pensantes é uma dádiva que nos possibilita beber do fruto do conhecimento, mas pode também trazer alguns dissabores. 

 

Os mitos caem, a vida continua.

 

 

ENVELHECER DEIXARÁ DE SER O ÚNICO MEIO DE VIVER MUITO TEMPO

 

 

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