Teoria dos Comandos - Apresentação

O texto abaixo, intitulado "O GRANDE DIA" será a página de abertura do Volume I da Teoria dos Comandos, "Anatomia da Homossexualidade". Reflete, em síntese, o foco principal da pesquisa do autor, que foi a Gestação e a Maternidade, e as desejáveis consequências deste enfocar, e deste trabalho, projetadas para o futuro.


 

O   G R A N D E   D I A

Ainda está para chegar o dia, grande dia, em que a humanidade terá, de verdade, consciência da importância da gestação na formação de um novo ser. Neste dia, profundas mudanças sociais virão à vida. E o grande evento, hoje banal evento, a criação de novos seres, será o foco privilegiado de toda atenção médica e social.

 
A gestação, e a preparação da mulher para, será algo sagrado, no sentido mais puro, científico, e não, do termo. E a humanidade ganhará o limiar de um novo alvorecer, no qual, as doenças, meras lembranças que o tempo levará, não mais impedirão o sonho e a ventura da plenitude humana.
 
A esperança de que um dia, chegue o grande dia, foi o que animou o autor, durante os últimos 15 anos, neste trabalho de pesquisa, cuja gestação intelectual está agora sendo anunciada, para ganhar, com a futura publicação de sua primeira parte, Anatomia da Homossexualidade, a parição na vida das letras.

 


 

TEORIA DOS COMANDOS

BREVE APRESENTAÇÃO HISTÓRICA E INTRODUÇÃO CONCEITUAL

11 de novembro de 2012

 


[pág. 01]                                                                  1. HISTÓRIA INICIAL
 
O estudo cuja apresentação introdutória irá ser feita na seqüência ganhou o início de sua existência exatamente no dia 22.05.1997. Neste dia atendi um paciente1 de 24 anos que, não sabia ainda, iria dar origem à pesquisa que acabou me conduzindo à elaboração desta teoria2. Alguns meses depois, no dia 26.09.1997 tive oportunidade de fazer uma entrevista com sua mãe. Nesta entrevista minha atenção e curiosidade foram aguçadas por uma coincidência entre o comportamento deste paciente quando adulto e o comportamento de sua mãe quando dele ainda grávida.
 
O paciente tinha ameaçado, por diversas vezes, por fogo na casa em que moravam e na pequena fábrica de doces da família. Isso ocorrera em ocasiões em que fora ameaçado, pelos pais, de ser posto para fora de casa, em virtude de seu comportamento. Ele sempre tivera problemas comportamentais. Desde a infância fora um constante gerador de problemas: em casa, na escola, depois no quartel, nos relacionamentos com os irmãos e pais, com vizinhos, com a noiva, etc. Os pais, não tendo até aquele momento conseguido lidar com a situação, o ameaçavam expulsar de casa. Estes acontecimentos ocorreram num contexto de uso de recursos extremos para tentar fazê-lo mudar de comportamento, e já quando nada, de tudo que tinham tentado até então, tinha funcionado. Foram nestas ocasiões que o paciente fez as ameaças. Consumar tais ameaças significaria acabar com todo o patrimônio que seus pais haviam construído, e do qual viviam ele, os pais, três irmãos e um tio materno, solteiro, que morava nos fundos. Como poderia alguém ter tanta raiva dentro de si, e ser tão inconseqüente, a ponto de deliberadamente, não sendo psicótico nem psicopata, ameaçar fazer algo que prejudicaria a toda sua família e a si mesmo?
 
Esta pergunta permanecia martelando na minha cabeça e eu queria entendê-la. Como era possível alguém fazer ameaças deste calibre à própria família? A pergunta ecoava em minha mente enquanto ouvia o relato da mãe. E as lembranças de outros desatinos cometidos por tantos outros, noticiados pela mídia, pairavam sobre o relato que ouvia daquela mãe. Como eu tinha aprendido até então, e ainda se ensina hoje, que a infância é decisiva para a formação da personalidade do adulto, perguntei à mãe como fora a infância dele. Mas ela não falou da infância, minha pergunta levou-a mais longe, a fez retroceder a épocas que guardavam lembranças que lhe eram mais incômodas, e que aproveitaram a brecha aberta pela pergunta, para se expressar. E ela começou a falar dos tempos em que estava grávida. Apenas deixei-a falar e fui ouvindo.
 
Quando ela contou que tentou abortá-lo com uma injeção, que obviamente não funcionou como ela esperava, um pensamento se formou com bastante força em minha mente. Ora, havia uma conexão clara entre o presente e o passado gestacional daquele paciente, ele sofrera ainda no útero materno, uma tentativa de assassinato. Chamamos isso de tentativa de aborto. Mas o que é isso, não importando o nome que dermos, assassinato ou aborto, senão uma forma ou ato de tentar matar um ser ainda não nascido e em desenvolvimento? O conceito de aborto, diferenciando-o de assassinato, é puramente retórico, semântico, uma retórica suavizadora e permissiva para algo que soa e ressoa de uma forma muito pesada e culposa em nossos ouvidos e consciência.
 
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Assim, precisamos, desesperadamente até, do conceito de aborto. A maternidade tem uma história interessante. Nos séculos XVI e XVII o aborto, o infanticídio e o abandono de crianças eram extremamente comuns. O infanticídio, apesar de crime punido com severidade, era amplamente praticado de formas disfarçadas, como “acidentes”. Somente no final do século XVII que começou a exaltação do amor materno, tendo início um processo social de intimidação das mães, quando as tentativas de aborto passaram a ser consideradas crime3. Esta questão é extremamente delicada e ainda não há consenso, a polêmica é da ordem do dia, contemporânea.
  
Mas abortar não é exatamente isso, matar um ser vivo que está se desenvolvendo no próprio útero materno? E totalmente indefeso? Podemos imaginar um comportamento, qualquer que seja o nome com que seja rotulado, mais perverso que a própria mãe matar o filho, e ainda antes de nascer, quando nem completou o desenvolvimento? Se depois do nascimento ainda há uma fase, relativamente longa, em que o bebê e depois a criança permanece indefesa e à mercê do comportamento materno, o que dizer da indefensibilidade exponenciada dele quando embrião ou feto, quando nem sequer completou o desenvolvimento? Quando nem sequer nasceu?
 
É possível um ser humano guardar uma mágoa maior que esta? Pode haver uma dor maior que a de saber que sua própria mãe tentou lhe matar numa época de sua vida em que ela tinha o dever biológico e moral de lhe defender, que ela estava ainda lhe gerando? Naquele momento, ali, ouvindo a mãe falando, estes pensamentos foram se formando em minha cabeça com uma clareza e uma lógica cristalina, inquestionável, assustadora, mas ao mesmo tempo temperadas por uma compreensão e um amor muito grande por aquela mãe e por aquele filho. Estavam os dois sendo vítimas de uma situação criada à revelia de ambos, nenhum deles tinha consciência compreensiva e real das origens do drama infernal que estavam vivendo.
 
Claro, fácil entender, que aquela situação tinha uma história e uma pré-história, sem a qual não pode ser compreendida, mas não é este o momento de fazer esta abordagem. Ficou claro para mim, naquele momento, que o paciente estava, quando fazia as ameaças, de certa forma, sem consciência e muito menos compreensão, e num contexto distemporal, ameaçando dar expressão comportamental a sentimentos4 muito profundos, cujos conteúdos ideacionais eram completamente eclipsados (se é que chegaram a ser gerados) pela raiva que geravam, somente esta podendo vir à consciência, e, em o fazendo, tentando desta forma, criar uma espécie de vingança tardia e inconsciente, se podemos, com propriedade, usar aqui esta expressão. Neste ponto surge a questão teórica do embrião ou feto ter memórias5, isto será passível de compreensão com o desenvolvimento da teoria, mas posso adiantar que se trata de memória molecular, um tipo de memória que precede a memória comum tal como a entendemos. Já existe em neurociências, desenvolvido, o conceito de memória molecular, em contextos diferentes deste de que estou tratando. Este conceito, aplicado à teoria dos comandos, poderá ser bem compreendido quando chegar o momento de trabalhar sobre a questão da memória fetal.
 
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Retomando. Eu via, ou pensava ver, com clareza, o drama e a origem do drama, e também todas as vítimas daquela situação. Parecia só haver, ali, vítimas. Surpreendentemente, para mim na época, parecia não haver, nem culpados nem algozes. Eu via, imaginando, tudo. Via o paciente batendo na noiva, o pai desesperado segurando o paciente, a mãe angustiada e sofrida presenciando, mais uma vez, aquele tipo de situação, via o paciente brigando com os irmãos, o sofrimento dos irmãos, o paciente sendo expulso da escola várias vezes, viaturas da polícia cercando a casa quando o paciente, uma vez, criou problemas e agrediu um vizinho que era policial. As professoras desesperadas quando ele tinha fugido da escola e elas pensavam que ele tinha caído no lago que ficava perto e se afogado. Toda a história descritiva da mãe ia tomando forma, à medida que ia sendo formatada pelos meus neurônios imaginativos, e ganhava vida em minha tela mental.
 
No palco da vida daquele paciente havia muitos personagens, e outros tantos já se encontravam nos bastidores do passado. Todos, os do presente e os do passado, só vítimas, todos vítimas. E muitos outros figurantes, ainda nos bastidores do futuro, aguardando a vez, também iriam participar, e também como vítimas. As vidas de outros pacientes também me vinham à mente, de outros familiares, e outros e outros. Mudavam os personagens, mudava o palco, porém havia algo que não mudava: sempre vítimas, só vítimas, nunca algozes. Muito do que aprendera ao longo de minha vida profissional se mostrava equivocado e iniciava um processo de desvanecimento.
 
A grande marca do século passado, no conhecimento do comportamento humano, foi o trabalho de Freud e seus seguidores, e este trabalho focalizava a infância, e a construção doutrinal freudiana foi de tal forma estruturada que os pais, e especialmente as mães, se tornaram as algozes dos filhos. E este peso elas carregam até hoje, são consideradas culpadas pelas mazelas dos filhos, e estes muitas vezes cobram, e cobram bastante, porque o fazem com o beneplácito apoio da cultura, já que esta foi, e ainda se encontra, impregnada pelo pensamento freudiano. O império da culpa, que iniciara no final do século XVII, e que foi amplamente reforçado no século XX pela psicanálise, portanto legado freudiano, reina soberano no mundo moderno ocidental quando se trata de criação de filhos.
 
Durante a maior parte deste século (século passado), mães com sentimento de culpa suportaram teorias vazias que as acusavam de toda disfunção ou diferença dos filhos: mensagens confusas causam esquizofrenia, frieza causa autismo, dominação causa homossexualidade, falta de limites causa anorexia, insuficiente ‘conversa de mãe’ causa distúrbios de linguagem6.
 
Vivemos, ainda, em se tratando de comportamento humano, e de criação de filhos em particular, numa cultura freudianizada. Desta forma, aprendera conceitos que intencionalmente ou não, dividiam o mundo familiar em dois: o mundo dos culpados e o dos inocentes, dos pais e dos filhos. E não era assim, não era o que me mostrava aquela compreensão que estava criando vida em meu mundo mental. O que eu conseguia ver e compreender é que não havia, nunca, culpados.
 
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Claro que eu não podia me contentar com aquela compreensão, claro que naquele momento não havia toda a clareza que há agora. Não poderia tão somente com aquela experiência pretender dar validade a todos os outros comportamentos humanos do gênero. Na época o que vi com maior clareza no paciente foi o seu comportamento agressivo e ameaçador. Se sua ameaça fosse concretizada ela teria sido geradora de um comportamento criminoso. Foi neste ponto que se estabeleceu o meu foco na época, pensei ter descoberto a origem do comportamento criminoso.
 
Passei então a pesquisar. Li livros e mais livros de criminologia, eu queria saber tudo sobre o assunto, tudo que já fora pesquisado em termos das origens de tal comportamento. A origem que eu via, ou pensava ver, estava enraizada na gestação, em experiências gestacionais, e procurei na literatura referências neste sentido. Não as encontrei. Sempre e sempre havia conexões com a infância, com o depois do nascimento. Minha procura foi em vão. Era sempre depois dos nove meses, à exceção de Rank que via no próprio nascimento o trauma inicial (mas não associado ao comportamento criminoso), que iniciava, na literatura, a aventura humana no sentido de formatação da personalidade e traços de caráter de natureza criminosa. E lá estava, sempre, a infância educacional, muitas vezes temperada por maus tratos e abusos traumáticos, mas era principalmente, sempre, o papel da mãe, quando muito dos pais, na educação, que era considerado a origem dos comportamentos socialmente desviados no sentido da criminalidade. Compreensível, diante de uma suposta teoria que repetia à exaustão o papel vital e culpógeno da vinculação inicial mãe-criança.
 
E a mãe era, então, sempre, a grande vilã e a grande culpada. E se o problema era a ausência do pai, a culpada também era a mãe, por não ter introduzido em seu discurso o pai. Pobres mães, costas largamente largas. Se fôssemos usar com Freud suas próprias construções pretensamente teóricas teríamos que interpretar que ele tinha um ódio muito profundo por sua mãe, e o projetou em todas as mães do mundo. Não. Não vou fazer isso, sabemos hoje que suas construções foram equivocadas7. Mas elas tinham aparência de estarem certas, e os que discordavam, quando discordavam, não constituíam problemas. Freud teve o cuidado de se apropriar também do conceito de resistência, criado por seu herói e mentor intelectual, Charcot8.
 
Quem discordasse dele era por resistência, assim como fazia Charcot, com quem Freud tivera ido estudar na França, antes de iniciar sua produção intelectual. Com todo o respeito aos psicanalistas, e sei que a maioria são bem intencionados, mas Freud não foi merecedor legítimo do mérito que lhe foi dado, pois não agiu de boa fé, e foi muita malandragem intelectual, para ser complacente e dizer o mínimo, criar uma doutrina e disfarçá-la de teoria e ainda blindá-la com conceitos que impediam refutação. As mães não mereciam um Freud. Mas muitos comportamentos não criminosos e criminosos, por exemplo, o fato de todos os seriais killers parecerem ter problemas com mulheres, parecia confirmar este pensamento, e assim a construção conceitual (doutrinal) de Freud foi sobrevivendo e certamente hoje ainda conserva muita de sua força, embora esta força esteja restrita apenas à cultura popular, e ao mundo acadêmico anacronizado, uma vez que na seara acadêmica devidamente sintonizada no tempo, portanto científica e atualizada, já se sabe, à exaustão9, que Freud errou.
 
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Pois bem, minha busca na literatura ficou frustrada, percebi que ninguém ainda tinha feito ligações entre o comportamento gestacional da mãe e o comportamento criminoso do adolescente ou adulto. O máximo que encontrei neste sentido, foi num autor brasileiro, Luiz Miller de Paiva10, que abordou a questão da criminologia de uma forma bastante inteligente, mas também ele, colocava a saga da origem do comportamento criminoso na infância, na rejeição materna durante a infância. De novo, lá estava a mãe, vilã e culpada. Desta forma, percebemos que o peso social culpógeno colocado nos ombros das mães, conseqüência direta do fato biológico de ser a geradora e paridora é muito, injustamente, grande.
 
                                                              2. A CULPA NÃO TEM DONO
 
Quero aproveitar este momento para deixar registrado, com o máximo de clareza possível, que não estou ratificando a opinião social reinante a respeito da culpabilidade das mães pelo infortúnio dos filhos. Pelo contrário, sem pretender fazer apenas um jogo de palavras, quero enfatizar justamente o contrário. Estou afirmando com todas as letras que as mães não têm culpa. Como já coloquei acima, não vejo culpados no palco comportamental de nossas vidas, só vítimas circunstanciais de acontecimentos imprevisíveis e não desejados, ou, se previsíveis e desejados, que fogem do controle por contextos vitais de momento, os mais diversos. Assim, que fique bem claro desde agora. Qualquer pessoa, em qualquer época, fica desautorizada desde já, para escrever, sugerir ou induzir a idéia de que a Teoria dos Comandos com suas descobertas e conceitos que serão apresentados daqui para a frente implica na culpabilidade das mães pelos problemas ou distúrbios ou doenças apresentados pelos seus filhos. Quem quer que seja que afirme, ou venha a afirmar isso, estará fazendo uso indevido e distorcido do meu trabalho.
 
Falava acima do peso social culpógeno que recai sobre as mães. Mas uma parte do peso recai sobre o pai, também por herança freudiana. Quem nunca viu as piadas sobre homossexuais na TV onde o pai machão se pergunta diante do fato do filho ser homossexual: “onde foi que errei?”. Na doutrina freudiana o pai deveria ser o modelo identificatório masculino, se o filho era homossexual o pai tinha falhado como modelo. Nem pai nem mãe erram, repito. A culpa não tem dono. Mas se insistirmos em nosso hábito sócio-cultural de pensar que tem que haver um culpado, este só pode ser impessoal, social e científico, e o único nome pelo qual pode, legitimamente, responder, é ignorância. Esta é a grande mãe de todos os erros e sofrimentos humanos em todas as épocas, e esta colocação, sabemos, extrapola o âmbito deste trabalho.
 
Passei aproximadamente três anos achando que tinha descoberto a origem do comportamento criminoso e pesquisando para escrever sobre o tema. Teria que me apoiar grandemente na literatura porque minha clientela de consultório não tinha o perfil necessário para esta pesquisa. Assim, na literatura sobre o tema ia anotando, enquanto lia, as evidências que poderiam confirmar minha hipótese inicial. Quando julgava estar finalmente em condições de iniciar o trabalho escrito sobre as origens do comportamento criminoso, fiz outra descoberta.
 
[pág. 06]                                                     3. A CAUSA DA HOMOSSEXUALIDADE
 
Pesquisando num caso clínico onde achei que poderia encontrar material para a questão da criminologia, acabei fazendo descobertas importantes sobre a homossexualidade. Poderia escolher: escrever sobre criminologia e embasar uma hipótese em material de literatura reunido aqui e ali em diversas fontes, sem a consistência desejada ou ideal, ou partir para uma nova pesquisa agora sobre homossexualidade, tema para o qual eu dispunha de material humano abundante em minha clientela de consultório, podendo assim ter a consistência desejada e apresentar um trabalho de maior qualidade. Optando por esta segunda possibilidade, iniciei nova pesquisa.
 
Quanto à questão do comportamento criminoso, a opção que fiz pela nova pesquisa revelou-se acertada, pois me equivocara quanto à origem deste comportamento. Este só é passível de compreensão depois de compreendida a psicose, tema que necessariamente terá que ficar para o final da apresentação, não cabendo no primeiro volume da exposição de minha teoria, que abordará primeiramente a questão da homossexualidade (Anatomia da Homossexualidade). Terei oportunidade de mostrar, na hora oportuna, o motivo de meu equívoco em relação à origem do comportamento criminoso, motivo que encontramos também na literatura a respeito da questão, e que é da mesma natureza da razão da dificuldade, até o presente, da identificação das origens dos transtornos psiquiátricos.
 
4. AS CAUSAS DA DEPRESSÃO E DA PSICOSE
 
Como é comum na pesquisa científica, aliás, é a própria essência da ciência, uma coisa leva a outra, que por sua vez leva a outra e assim por diante. Desta forma, acabei também descobrindo a causa da depressão. Fiquei entusiasmado: tinha descoberto dois mistérios, a causa da homossexualidade e a da depressão, e usando a mesma pesquisa e o mesmo raciocínio. Com certeza, pensei, animado e excitado, poderia também descobrir a causa da psicose. E tentei, apliquei o mesmo raciocínio, não poderia não funcionar, já que funcionara tão bem na homossexualidade e na depressão. Além disso, avaliações prévias a título de testes apontavam nesta direção. Mas não funcionou, alguma coisa estava errada. Testei e retestei meu raciocínio e meus desenvolvimentos teóricos. Não havia erro. Mas em algum lugar tinha que haver um erro. Finalmente, depois de dar muito trabalho a meus neurônios, muitos meses depois, veio a recompensa, acabei encontrando. Não foi fácil, a psicose se revelou um osso bem duro de roer. Mas uma vez compreendida, a recompensa foi grande, foi possível fazer complementações ao que já tinha descoberto até então, além de que abria caminhos que propiciavam novos avanços, até então, para mim, inimagináveis.
 
A psicose revelou-se ser, na compreensão do comportamento humano, inclusive sadio, uma peça chave, e aí não foi difícil montar aos poucos todo o quebra cabeças. Veremos isso detalhadamente ao longo da exposição da teoria, que tão somente iniciarei no primeiro volume da série, pois a compreensão exige, para não ficar comprometida, uma apresentação gradual e didática, além de que meu tempo disponível para organizar a pesquisa, em virtude de meu trabalho clínico de consultório, é deveras escasso, muito escasso. Resumindo, que é só o que é factível numa apresentação introdutória, foi possível montar o seguinte quadro básico, estruturado a partir de três comportamentos nucleares, que são, na ordem compreensiva em que os pesquisei e apresentarei, a Homossexualidade, a Depressão e a Psicose. Estes três comportamentos, por serem nucleares, como acabei de colocar, carregam em sua volta, uma vez compreendidos, de forma orbital, tais quais satélites dependentes, praticamente toda a gama dos comportamentos humanos, permitindo sua plena compreensão, quer estejam no âmbito do que se considera normal ou anormal.
 
[pág. 07]                                                    5. C O M A N D O   S I M P L E S
 
A Homossexualidade nos fornecerá o modelo da compreensão de um tipo de comando que denominei Comando Simples. Na órbita deste comando encontraremos a Homossexualidade tipo 1 (existem 2 tipos) e diversos comportamentos associados a dificuldades de relacionamento e a problemáticas ou distúrbios associados à sexualidade e à maternidade. Também à paternidade, embora aqui de uma forma menos significativa. A essência deste comando é epigenética gestacional. Assim, o Comando Simples pode ser definido como aquele comando que ocorre durante a gestação, e que consiste em pensamentos ou sentimentos abrigados pela gestante, direcionados ao embrião ou feto, e que terão conseqüências na formatação psíquica do gestando, sendo que a natureza do comando terá uma relação direta, simples e direta, com o efeito gerado no gestando. Aqui o comando tem como objeto o próprio gestando, sendo a ele intencionalmente dirigido.
 
6. C O M A N D O   S E M I - C O M P L E X O
 
Na seqüência, num próximo volume, examinarei outro tipo de comando, que denominei de Comando Semi-Complexo. Na órbita deste tipo de comando, cujo modelo é a Depressão tipo 1 (existem 2 tipos), encontraremos diversos problemas comportamentais, como por exemplo a hiperatividade tipo 1 e a dependência química tipo 1. O Comando Semi-Complexo pode ser definido como aquele comando que ocorre durante a gestação, e que consiste em pensamentos ou sentimentos abrigados pela gestante, não direcionados ao embrião ou feto, mas podendo sê-lo de forma indireta, e cujo efeito na formatação psíquica do gestando é da mesma natureza. Isto ocorre apesar de o comando não ser intencionalmente dirigido ao gestando. Neste tipo de comando, portanto, os pensamentos ou sentimentos não têm como objeto o próprio gestando, embora isso possa ocorrer de forma secundária, mas nele incidem e causam efeitos como se a ele fossem direcionados. A essência deste comando é, também, epigenética gestacional.
 
7. C O M A N D O   C O M P L E X O
 
 
Na seqüência virá a Psicose, modelo do que chamei de Comando Complexo, sendo que aqui, na psicose, não há diferenciações entre tipo 1 e tipo 2. A psicose, em se tratando do tipo de comando, não comporta sub tipos. Mas, por outro lado, sua órbita é muito rica, nela encontramos a Homossexualidade tipo 2, a Depressão tipo 2, a Hiperatividade tipo 2, a Dependência Química tipo 2, o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), a TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada), o Transtorno do Pânico, os Transtornos Fóbicos, os Transtornos Sexuais tipo 2, os Transtornos de Personalidade e, finalmente, os Transtornos Psicopáticos, onde localizamos o comportamento criminoso. O Transtorno Bipolar, é um quadro clínico localizado na Depressão tipo 2. A depressão tipo 1 não comporta a bipolaridade. A natureza deste comando é genética pré gestacional, e a sua essência está em que os pensamentos e sentimentos presentes na mãe durante a gestação não exercem influência direcionadora nos efeitos dos comandos, justamente por serem genéticos e já pré definidos, anteriores à própria concepção. Isto é, o comando aqui é puramente genético. Assim, os pensamentos e sentimentos abrigados pela gestante, direcionados ou não ao embrião ou feto, não criam comandos que irão incidir no gestando, isto não significando que não tenham nenhum efeito, significando tão somente que não apresentam a capacidade de criar comandos novos.
 
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Neste ponto poderá se pensar que já se sabe que a psicose e diversos outros transtornos têm causa genética, portanto suas causas já estão estabelecidas, faltando apenas identificar os genes. O mérito da teoria dos comandos, neste ponto, é apontar, a nível molecular, onde o problema tem início, mas o mérito é parcial, aqui ela não consegue apontar a causa. Aqui ela não responde, mas traz à luz outra pergunta, e esta pergunta permanece, para mim, na fila das incógnitas, talvez pelo próprio fato de meu conhecimento de genética molecular estar muito longe de ser profundo.
 
                                                      8. TEORIA SEXUAL DOS COMANDOS

 

Obviamente que a divisão acima, os três tipos de comandos, é descritiva e simplificada, e que este não é o momento de seus desenvolvimentos, já que se trata tão somente de uma apresentação introdutória. No primeiro volume estarei abordando principalmente, e quase exclusivamente, a Homossexualidade tipo 1, que formará uma base conceitual sólida que será usada como modelo para a Depressão tipo 1 nos Comandos Semi-Complexos e depois para os Comandos Complexos. Colocando de outra forma: para podermos iniciar uma compreensão da Teoria dos Comandos temos que necessariamente partir do simples para o complexo, como aliás, em tudo na ciência. Desta forma, a Depressão tipo 1 só será passível de compreensão depois da compreensão da Homossexualidade tipo 1, e a questão da Psicose só poderá ser compreendida depois da compreensão da Homossexualidade tipo 1 e da Depressão tipo 1. Estas três compreensões, homossexualidade tipo 1, depressão tipo 1 e psicose, formam um grupo de três grandes peças chaves, necessárias para a compreensão dos transtornos psiquiátricos e dos comportamentos humanos de modo geral.

Ainda em relação ao primeiro volume que tratará essencialmente da questão da homossexualidade tipo 1, e já podemos dizer agora, de natureza epigenética, em contraposição à do tipo 2, de natureza genética; apresentarei também neste volume, uma teoria da sexualidade, conseqüência direta da compreensão da homossexualidade tipo 1. A construção desta teoria sexual embasada nos comandos independe da compreensão da homossexualidade tipo 2 e dos comandos complexos, por isso poderá ser apresentada já no primeiro volume da série. Será a “Teoria Sexual dos Comandos”.
 
9. HOMOSSEXUALIDADE, DEPRESSÃO E PSICOSE EM ANIMAIS
 
Uma grande questão que também se me apresentou ao longo da pesquisa, e tive que resolvê-la, foi a questão da Homossexualidade nos animais, fato muito usado hoje pelos grupos homossexuais para defender a questão da normalidade do comportamento homossexual. Adianto, e veremos ao longo do desenvolvimento do trabalho, no primeiro volume, que a Homossexualidade tipo 1 só é encontrável em seres humanos, é exclusividade humana, assim como a Depressão tipo 1. A homossexualidade encontrada na natureza, nos animais, também veremos na devida hora, é do tipo 2 (Comandos Complexos). Os transtornos depressivos provocados experimentalmente em animais de laboratório também pertencem à Depressão tipo 2, esta é comum aos humanos e aos animais. Já a psicose é única, e o mecanismo nos seres humanos e nos animais, nos experimentos de laboratório, é o mesmo, aqui a Natureza não criou diferenças. As óbvias diferenças comportamentais aqui encontradas (pode-se ver um animal psicotizado confuso, mas não delirante), devem-se ao fato de nós termos a capacidade pensante, não desenvolvida nos animais de forma tão sofisticada quanto em seres humanos. Claro, se animais não pensam, não podem apresentar sintomas delirantes, que se constituem em transtornos do pensamento.
 
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Por tudo que coloquei até aqui nesta apresentação introdutória, pode-se pensar, mesmo que forçando um pouco o pensamento, que tenho a pretensão de ter esgotado a questão. Não, nunca, jamais. Sei que não o fiz e nem tenho esta pretensiosa ambição. Se pude descobrir as chaves compreensivas dos transtornos psiquiátricos, foi em virtude de elas se encontrarem no mesmo lugar. Qualquer um que tivesse feito a descoberta inicial iria fazendo as outras, desde que dotado, associado a um espírito científico inquisidor, de persistência e boa vontade. Uma vez feita a descoberta inicial, foi só ir puxando cuidadosamente o fio, e o resto foi aparecendo, claro que não sem obstáculos que tiveram que ir sendo contornados, e cuja história procurarei expor enquanto for apresentando a pesquisa.
 
Sem dúvida foi, para mim, uma grande aventura intelectual, tendo havido momentos de grande excitação. E também momentos de muita dor. Ao pesquisar a depressão tipo 1, incontáveis vezes pensei que seria melhor não ter descoberto nada, muitas vezes senti, junto com as mães pesquisadas, suas dores mais profundas. Elas choravam o choro doído, e minha alma chorava junto, algumas vezes, até meus olhos. Mas eu estava num caminho que não tinha volta. Farei o possível para tentar passar para os futuros leitores, as sensações das descobertas que fui fazendo ao longo do caminho. Que fique bem claro que tenho consciência de que foi um trabalho inicial, de desbravamento, como o de abrir uma picada no mato virgem. Quando se abre uma picada nestas condições, vê-se as árvores principais, pode-se até ver também os galhos e as folhas e flores, mas não se pode ver tudo em detalhes, e as raízes ainda permanecem ocultas sob o solo, só podendo ser inferidas. Assim, tenho consciência dos limites. Minha pesquisa é apenas um lampejo inicial numa noite escura que representa o conhecimento compreensivo das causas dos transtornos psiquiátricos e dos comportamentos de modo geral, incluindo o organismo doente.
 
11. TEORIA GERAL DAS DOENÇAS
 
A pesquisa atual na medicina está focada não na essência da compreensão das causas das doenças, mas sim na compreensão de seus mecanismos moleculares bioquímicos, e a ciência médica atual confunde compreensão causal com compreensão de mecanismos fisiológicos moleculares. Ciência, por definição, exige precisão conceitual, e a pesquisa médica atual carece desta precisão conceitual em suas pesquisas, na medida em que, pensando estar procurando as causas das doenças, está, realmente, num patamar mais superficial, pesquisando seus mecanismos fisiológicos moleculares. Claro que isso não é demeritório, mas é preciso ter consciência do que, realmente, se está fazendo, pois sem esta consciência corre-se o risco de, por se estar com o foco concentrado em pontos secundários tomados como primários, deixar de enxergar os primários verdadeiros.
 
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Assim, fazer análises do que apresentarei e chegar a correlações de níveis moleculares correspondentes, que é o foco da pesquisa médica atual, é tarefa que, de bom grado, deixo para outros pesquisadores. Estes já estão trabalhando em outros caminhos, propiciados e abertos pelas pesquisas da neurociência, e muito mais qualificados que eu, virão pela picada que fiz, ou farão a integração de suas descobertas com aquelas advindas da teoria dos comandos. O que ainda pretendo fazer, e considero isso, por enquanto tarefa minha, por obrigação, já que elaborei a teoria, é, depois de exposta toda a Teoria dos Comandos, ou durante, não sei ainda, estabelecer uma ponte para as doenças de modo geral e mostrar como e porque a compreensão dos Comandos permitirá chegar a uma Teoria Geral das Doenças. Como corolário pretendo também mostrar como é possível compreender, de forma profunda, a questão do envelhecimento humano. Talvez não seja mero acaso que o raciocínio equacional relacional que apresentei, sem desenvolver, em Desenvelhecimento11, tenha permitido a elaboração da Teoria dos Comandos e aberto caminho para uma Teoria Geral das Doenças.
 
Somente depois desses caminhos trilhados, e bem trilhados, é que será possível compreender, realmente, o mistério do envelhecimento humano e da quase totalidade dos seres vivos animais que compartilham conosco a vida neste planeta. Aí será possível a compreensão deste grande mistério em todas as suas vertentes, que são, em primeiro lugar, a nutricional e genética, a nutricional englobando o que chamamos estilo de vida, e, em segundo lugar aquela vertente propiciada pela Teoria Geral das Doenças, esta englobando comandos epigenéticos da adultez, comandos epigenéticos de infância, comandos epigenéticos gestacionais e comandos complexos (genética). Por estas colocações já podemos perceber que o envelhecimento também existe, na natureza, de dois tipos, o tipo 1, exclusivamente humano (comandos genéticos e epigenéticos) e o tipo 2, exclusivamente genético (comandos complexos), que compartilhamos com as outras espécies animais12
 
Finalmente, quero deixar claro que embora este trabalho possa vir a ser publicado de maneira leiga, não em revistas científicas especializadas, não significa que não seja uma pesquisa científica. Como poderá ser visto já no primeiro volume, houve a formulação de uma hipótese e a aplicação de uma metodologia científica, com a criação de novos conceitos, na sua verificação e validação. E talvez até mais importante, uma vez divulgada a metodologia usada, uma vez que o campo objeto da pesquisa (período gestacional) já está sendo divulgado nesta introdução, esta é passível de ser replicada por qualquer investigador do comportamento humano. É portanto, passível de Validação ou Refutação, como deve ser toda teoria. Não se tratará, assim, da apresentação de especulações inacessíveis à legitimação empírica. O fato de poder não estar publicando nas revistas científicas se deve ao fato de que não pertenço ao mundo acadêmico oficial. E não estar ligado a nenhuma instituição acadêmica me torna um pesquisador independente. E também ao fato de que publicá-lo numa revista especializada implicaria numa restrição, pelo menos inicialmente, a uma grande população que não tem acesso a tais publicações mas que tem bastante interesse no tema. Isto, claro, se meu trabalho fosse aceito, uma vez que tais veículos de publicações científicas não têm por hábito aceitar trabalhos que não procedam de suas orbes institucionais reconhecidas e de pesquisadores já consagrados, e às vezes não aceitam um trabalho até mesmo porque, ou justamente porque, contraria supostos conhecimentos, dogmatizados e já bem estabelecidos e úteis.
 
[pág. 11]                                    12. TEORIA UNIFICADA DO COMPORTAMENTO HUMANO
 
Coloquei acima que a Teoria dos Comandos permitirá uma ponte para a construção de uma Teoria Geral das Doenças, que englobará o envelhecimento humano e não humano. Anteriormente já tinha mencionado os três comportamentos nucleares constituídos pela homossexualidade tipo 1, pela depressão tipo 1 e pela psicose, dizendo que carregam em suas órbitas toda a gama dos comportamentos humanos, permitindo sua plena compreensão, quer estejam no âmbito do que se considera normal ou anormal. Ora, uma teoria que nos permita compreender os transtornos comportamentais (psiquiátricos) e o comportamento normal, que forneça um embasamento teórico que permita a compreensão de base das doenças de todas as especialidades médicas (teoria geral das doenças), poderá receber mais tarde, no final de toda a explanação, sem muita dificuldade, outro nome, que a complemente, que desde já, antecipo. Chegarei, no final da caminhada, se assim Deus o permitir, a um corpo teórico que denomino de Teoria Unificada do Comportamento Humano.
 
Este final para a pesquisa que vinha fazendo era, até que pude desvendar a questão da psicose, inimaginável. E só pude compreendê-la, a psicose, ao compreender a homossexualidade tipo 2, cuja existência já tinha identificado, mas cuja causa estava na fila das incógnitas pendentes, onde fora colocada depois de diversas tentativas infrutíferas de resolução. Ao compreendê-la, o que aconteceu ao ler uma colocação num livro leigo sobre o ódio13, acho que foi um “eureka”, veio junto a compreensão da psicose. Foi um momento mágico para mim, num só “eureka” eu tinha compreendido, ao mesmo tempo, a homossexualidade tipo 2 e a psicose. Naquele instante de magia, diante de uma colocação do autor, me veio a pergunta “e como fica isso em nível molecular?”. Nesta pergunta morava a magia, eu tinha feito a pergunta certa. É quase incrível como a pergunta corretamente formulada já está grávida da resposta. Inundado de uma euforia não bipolar, uma alegria que sentia a necessidade de compartilhar, como não tinha interlocutores para minha pesquisa, a não ser minha esposa, e estava no consultório, fiquei ansioso para chegar em casa e dividir com ela a novidade. Ao chegar só encontrei meu filho adolescente, que foi então, a primeira pessoa a ouvir, mesmo sem compreender direito o que estava acontecendo, que eu tinha finalmente conseguido entender as duas causas da homossexualidade e também a causa da psicose. Parecia-me que ele não entendia direito aquela alegria toda, mas não me importava, eu precisava falar, minha pesquisa tinha avançado para outro patamar, era alegria demais para não dividir.
 
Só faltava confirmar aquela compreensão, fui até a estante e retirei o livro de neurociências14, aquela questão molecular era básica, não podia não estar ali, procurei e, de fato, ali estava, e agora, tão óbvia ... Como veremos no primeiro volume, a compreensão da homossexualidade tipo 1 também veio, tão somente, se assim posso dizer, de ter formulado corretamente a questão. Isso, de formular a pergunta certa, não é intencional, mas pode ocorrer se o pesquisador estiver mergulhado, de corpo e alma, no tema de seu estudo. Eu não sabia, agora sei, estava profundamente, e mais do que imaginava, envolvido com minha pesquisa.
 
[pág. 12]                           13. PERTINÊNCIA PSIQUIÁTRICA DESTA TEORIA
 
A Revista Psiquiatria Hoje, ano XXXI – edição 01 – janeiro de 2009, nos informa, em matéria intitulada “Na Vanguarda da Ciência”, que “para incentivar a produção científica brasileira em nível de excelência, foram criados, no final do ano passado (2008), os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT), que receberão o maior aporte de recursos já destinado para a área de pesquisa no Brasil: R$ 520 milhões.”
 
Destes recém criados Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (101 no total), quatro são coordenados por psiquiatras, sendo o INCT de Psiquiatria do Desenvolvimento para Crianças e Adolescentes coordenado pelo Dr. Eurípedes Constantino Miguel Filho, professor titular de psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Embora o projeto deste INCT contemple estudos desde a fase pré-natal, o Dr. Eurípedes colocou que “Queremos trabalhar dentro de um novo paradigma, que é a idéia de que os transtornos psiquiátricos começam na infância e são transtornos do desenvolvimento cerebral”. Ainda, segundo a revista, o INCT de Psiquiatria do Desenvolvimento para Crianças e Adolescentes é formado por 16 projetos, que têm abordagens específicas. “Serão realizados desde estudos com modelos animais até pesquisas epidemiológicas iniciadas durante a gestação, passando por ensaios clínicos e testes de intervenções precoces para prevenção de doenças mentais como transtorno do déficit de atenção por hiperatividade (TDAH), transtornos de ansiedade, esquizofrenia e transtorno do humor bipolar, entre outros”.
 
A respeito dos projetos deste INCT, que contempla estudos desde a fase pré-natal, o Dr. Eurípedes colocou que “Queremos trabalhar dentro de um novo paradigma, que é a idéia de que os transtornos psiquiátricos começam na infância e são transtornos do desenvolvimento cerebral”.
 
A Teoria dos Comandos virá, portanto, para se inserir num contexto de vanguarda das idéias a respeito da origem dos transtornos psiquiátricos, indo, porém, um pouco mais além e mostrando que, embora pareçam começar na infância, começam realmente antes, durante a gestação, claro que sendo, de fato, transtornos do desenvolvimento cerebral. O mérito da teoria dos comandos é identificar os eventos (comandos) que incidem, precocemente, sobre o desenvolvimento cerebral, promovendo o início dos transtornos. É óbvio que não podemos observar os transtornos psiquiátricos intra-útero, o repertório comportamental do feto é limitado, como limitada é a nossa observação do mesmo. Seu comportamento passa a ser observável apenas após o nascimento.
 
Disso decorre que a imensa maioria dos autores que se debruçaram, e debruçam, sobre a questão, afirmam que tudo começa na infância. Ora, até há pouco tempo, quando a atenção observacional da pesquisa se focava no adolescente e adulto, acreditava-se que era nesta fase que os transtornos começavam. A teoria dos comandos com seus conceitos virá para introduzir um novo paradigma, o de que os transtornos psiquiátricos começam na vida intra-uterina, embora não sejam observáveis, mas tão somente porque não temos tecnologia desenvolvida o suficiente para esta observação, nem parâmetros descritivos já estabelecidos, claro que em função do que coloquei acima, repertório comportamental restrito e observação limitada e difícil. No segundo volume da série (Anatomia da Depressão), onde apresentarei os comandos semi-complexos mostrarei como isso é possível, em alguns casos pelo menos, de avaliação empírica.
 
[pág. 13] 
 
A teoria dos comandos carrega em seu bojo um enorme potencial de aplicação futura no sentido preventivo. O Dr. Eurípedes, em seu discurso de posse de Professor Titular, feito em 20.08.2009, fez a seguinte colocação: “Os transtornos mentais são fruto de alterações do nosso cérebro. Diferente da neurologia, onde se encontram lesões específicas em certas áreas do cérebro, a doença mental reflete alterações em circuitos cerebrais. E a maior parte dos transtornos mentais começa na infância. A idéia é utilizar os novos avanços das neurociências e criar critérios para identificar indivíduos com risco para o desenvolvimento de uma doença mental, para nestes testar intervenções que possam impedir o seu aparecimento ou levar a uma forma mais atenuada da sua expressão, onde os nossos tratamentos poderão ser mais eficazes”.
 
À luz da teoria dos comandos, as alterações em circuitos cerebrais e o início da maior parte dos transtornos mentais na infância são efeitos de comandos epigenéticos gestacionais (ou genéticos pré-gestacionais) que criam módulos15 e sub-módulos comportamentais que irão se manifestar depois do nascimento, durante o desenvolvimento, quando forem ativados pelas necessidades comportamentais que fazem parte do repertório comportamental necessário para o desenvolvimento. A dinâmica funcional dos transtornos que não começam na infância é a mesma, com a disfunção nos circuitos cerebrais iniciando ou se agravando quando o módulo comportamental é solicitado a funcionar, ou quando o nível de solicitação aumenta além da capacidade suportável. Sempre, porém, os comandos já foram estabelecidos na fase gestacional. É aqui, nesta potencialidade de ampliar o território de possibilidades de intervenção na preparação das jovens para a gestação e a maternidade, portanto procedimentos precoces e preventivos, que reside o grande valor compreensivo da teoria dos comandos.
 
                                                                  14. PERTINÊNCIA MÉDICA
 
E quanto à teoria das doenças? Em novembro de 2000 Peter Nathanielsz16, diretor do Laboratório de Pesquisas em Gravidez e Recém-Nascidos na Universidade de Cornell, estudioso com mais de 30 anos de pesquisa da vida intra-uterina, elencou quase quarenta pesquisadores que se dedicavam ao estudo do que ele chamou de programação fetal, “todos dedicados à melhor compreensão das origens fetais de doenças em adultos”. Segundo ele, no mesmo texto, “nas últimas décadas, pesquisas biomédicas determinaram de forma conclusiva que as interações física, hormonal e até mesmo emocional ocorridas entre a mãe e o feto ainda no útero têm um efeito concreto na saúde mental e física da criança por muitas décadas”. Institutos Nacionais de saúde norte-americanos já se pronunciaram afirmando que problemas cardíacos e acidentes vasculares cerebrais (derrames) se associavam com peso baixo ao nascer, e que o desenvolvimento de diabete se associava a má-nutrição materna durante a gravidez. Até o Instituto Nacional de Envelhecimento norte americano já se interessou pela vida intra uterina e já se sabe que a maneira pela qual envelhecemos é profundamente determinada pelo bom funcionamento da placenta.
 
Nathanielsz é enfático ao afirmar que a programação fetal afeta todos os aspectos de nossa saúde física e mental, em todos os estágios de nossas vidas (todos = infância, adolescência, adultez e velhice). Entre as doenças de adultos que têm origens por situações fetais, relaciona hipertensão arterial, níveis elevados de colesterol, saúde cardiovascular de modo geral, padrões alimentares, resistência emocional (hoje chamada de resiliência), níveis de inteligência, suscetibilidade ao câncer, resistência a infecções e, conseqüentemente, o tempo de vida (longevidade) e a qualidade deste tempo de vida (que a gerontologia chama de envelhecimento saudável).
 
Os estudos da fisiologia fetal começaram em meados do século passado, em Cambridge, Inglaterra17. As descobertas que foram se acumulando formam o corpo do que se chama hoje de programação fetal. Um inglês, David Barker, do Hospital Geral de Southampton, foi o pioneiro destes estudos, ao estabelecer diversas correlações entre as condições intra uterinas e a saúde de adultos e idosos18.
 
[pág, 14] 
 
Nathanielsz publicou casos clínicos por ele pesquisados e acompanhados, mostrando e afirmando que cada vez mais, descobre-se que as doenças de modo geral têm suas origens, quando se traça seu caminho de origem, na vida fetal. A relação entre estresse na gestação e maior susceptibilidade à depressão e outros transtornos mentais também já se encontra bem estabelecida19. Como ocorreu e ainda ocorre com a fisiologia cerebral, novas tecnologias de imagem e de observação, como por exemplo, os ultra-sons, permitiram um avanço na compreensão da observação e estudo da fisiologia e do comportamento fetal.
 
Em 02.06.2009 no Journal of the American Medical Association (JAMA), foi publicado um estudo que confirmava que as raízes das doenças em adultos eram freqüentemente encontradas em problemas de desenvolvimento e biológicos ocorridos não somente nos primeiros três anos de vida dos indivíduos, mas desde as primeiras semanas depois da concepção. O autor do estudo foi o Dr. Jack Shonkoff, pesquisador da Universidade de Harvard. Mais uma vez, compreensivelmente, as observações relativas à vida pré-natal foram limitadas, limitando também as conclusões, que listaram como fatores causacionais pré-natais a má-nutrição e a recorrência de infecções maternas durante a gravidez, fatores que foram associados a índices mais altos de doenças cardiovasculares, respiratórias e mentais na vida adulta. Devemos observar que o estudo do Dr. Jack Shonkoff confirmava que as raízes das doenças eram encontradas desde as primeiras semanas depois da concepção. Isso tudo, para não mencionarmos os já bem conhecidos e estudados efeitos que incidem sobre o gestando, quando a gestante faz uso de drogas durante a gestação, e até mesmo antes de engravidar.
 
A este respeito, estudos recentes feitos na Dinamarca, liderados pela Dra. Cecília Ramlau-Hansen, do Hospital da Universidade de Aarhus, ospHosjhod colocam a possibilidade de que o uso de álcool pela gestante pode ser um fator importante para a diminuição da capacidade reprodutiva nos gestandos do sexo masculino, quando atingem a idade adulta. Esta pesquisa foi apresentada na Reunião Anual (2010) da Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia e foi divulgada em diversos sites de notícias da internet.
 
15. C O N C L U S Ã O
 
Podemos perceber que tanto a psiquiatria como a medicina em geral, esta mais que aquela, já começaram a apresentar um novo olhar, mais inquisidor, em relação à gestação. Na verdade, e a literatura é rica neste sentido, a fase pré-natal sempre despertou a curiosidade e o interesse tanto de cientistas quanto de filósofos, artistas, religiosos e leigos. O que acontece é que a partir da descoberta da estrutura do DNA por Watson e Crick, em meados do século passado, houve um avanço considerável no conhecimento, avanço este que trouxe em seu bojo progressos tecnológicos que trouxeram possibilidades investigativas antes inexistentes. Estas novas tecnologias começaram a ser aplicadas em estudos do embrião e do feto e logo em seguida à fisiologia cerebral in vivo e em tempo real, o que permitiu o início de um desbravamento em áreas até então inacessíveis, com isso levando o pensamento mais longe, abrindo novos portais de possibilidades. A metodologia e o raciocínio aplicados em minha pesquisa, acredito, contribuirão acrescentando uma nova forma de pesquisa, perfeitamente compatível, e complementar, com o que ocorre na vanguarda do estudo científico do comportamento humano.
 
[pág, 15] 
 
Não deixa de ser irônico, o destino sabe sê-lo, que uma teoria geral das doenças possa vir à luz de uma teoria psiquiátrica, justamente da psiquiatria, a especialidade médica sempre pouco privilegiada e historicamente olhada até com certo desdém pelos outros especialistas. E estes não podem ser tão criticados, afinal, se considerarmos que em 1953 Jung escrevia, em sua autobiografia20, se referindo à psiquiatria do início do século passado, que “O ensino psiquiátrico procurava, por assim dizer, abstrair-se da personalidade doente e se contentava com os diagnósticos, com a descrição dos sintomas e dos dados estatísticos”. Basta olharmos para o CID (Código Internacional de Doenças) e para o DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) para percebermos que a colocação Junguiana, um século depois, ainda não perdeu toda a validade, apesar dos avanços ocorridos no tratamento com o advento da psicofarmacologia e de novas abordagens psicoterápicas. Quis o destino ser, talvez, ainda, um pouco mais irônico e permitir que um médico psiquiatra “provinciano”, sem títulos nem funções acadêmicas, apenas um clínico sem a elegância nem vistosidade de um currículo enriquecido por passagens por centros de excelência acadêmicos de primeiro mundo, fosse o responsável pela elaboração da teoria. E como se não bastasse, e aqui o destino faz da ironia reflexão, sem gastar um centavo, paralelamente ao seu trabalho clínico, enquanto centros de pesquisa de excelência gastam milhões de dólares pesquisando para compreender os transtornos psiquiátricos. Quem pode compreender o destino?
 
Finalizando esta breve apresentação introdutória, que já longevizou um pouco sua brevidade, penso poder acreditar que o palco está montado, pronto e preparado para acolher a teoria dos comandos e sua gestanda primogênita, a teoria geral das doenças.
 
                                                            Notas e referencias bibliográficas:
 
1. Os dados do paciente foram alterados para, resguardando preceitos éticos e legais, evitar identificação.
 
2. Gonçalves, Leocádio Celso – Teoria dos Comandos – obra a publicar. O primeiro volume, Anatomia da Homossexualidade tinha previsão para publicação até o final de 2011, infelizmente não foi possível por motivos alheios à vontade do autor. Os demais volumes não têm data prevista de publicação, tão somente em função do, ainda hoje, escasso tempo disponível do autor.
 
3. Maldonado, Maria Tereza – Psicologia da Gravidez – Editora Saraiva – 16ª. Edição – 2002 – págs. 15 a 22. Esta obra foi escrita na década de 1970 e a última atualização é de 1996. Considero uma obra de referência para os estudiosos da gestação e da infância.
 
4. O uso do conceito “sentimentos” não é totalmente adequado, usei-o por falta de um conceito que expresse melhor o que estou expondo. Esta questão será abordada no momento oportuno do desenvolvimento da teoria.
 
[pág. 16] 
 
5. Já existem estudos sobre memória fetal, vide, por exemplo Maria Tereza Maldonado, págs. 64, 80, 137. O psiquiatra canadense Thomas Verny, em seu livro “Bebês do Amanhã: Arte e Ciência de Ser Pais", também trata do tema de memórias intra uterinas, segundo matéria do Jornal Gazeta do Povo de 20.12.2004, pág. 6.
 
6. Pinker, Steven – Como a mente funciona – São Paulo - Companhia das Letras – 1998, página 59.
 
7. Webster, Richard - Por que Freud errou – Editora Record – Rio de Janeiro - 1999. A obra de Webster pode ser considerada uma referência em nossa língua, para uma legítima compreensão do trabalho de Freud, pois o autor o insere no cenário mais amplo do conhecimento médico geral e da própria história da medicina do final do século XIX e início do XX. Esta inserção, associada ao estudo da personalidade e ambições de Freud contextualiza o nascimento da psicanálise e torna visíveis seus desvios, equívocos e contradições, incluindo episódios explícitos de desonestidade científica por parte de Freud. Ecoando Webster e outros autores, Adolf Grünbaum, professor de psiquiatria da Universidade de Pittsburgh, Estados Unidos, disse que “não é à toa que nas principais universidades americanas as idéias de Freud estão saindo dos departamentos de medicina e psicologia e sobrevivem apenas nos cursos de literatura” – Super interessante – edição 181 de outubro de 2002, páginas 46 e 47.
 
8. Webster, Richard - Por que Freud errou – pág. 74.
 
9. Adolf Grünbaum, já citado acima e segundo a mesma fonte, declarou que “Está claro que ela – a psicanálise – já está morrendo em países como a Alemanha, a Suíça e os Estados Unidos”.
 
10. Paiva, Luiz Miller de – CRIME: Psicanálise Psicossomática – Tanatismo – Volume 1 – Imago Editora – Rio de Janeiro – 1981.
 
11. Gonçalves, Leocádio Celso - Desenvelhecimento – um vôo livre panorâmico sobre a questão do envelhecer – editora LTR – São Paulo – 1999 – págs. 89, 90, 221, 222, 228 e 229.
 
12. A este respeito, as experiências que vêm sendo feitas, há décadas, com animais em laboratório, principalmente ratos e macacos, já demonstraram que os comandos de envelhecimento genéticos dos animais são passíveis de alterações por comandos alimentares direcionados, por exemplo, a restrição calórica. Óbvio que os comandos genéticos humanos também obedecem às mesmas leis. A literatura existente já demonstrou isso e este foi o foco, de certa forma principal, que desenvolvi em Desenvelhecimento.
 
13. Góes, Joaci – Anatomia do Ódio, Editora Topbooks – Rio de Janeiro – 2004.
 
[pág. 17] 
 
14. Mark F. Bear, Barry W. Connors e Michael A. Paradiso – Neurociências – Desvendando o Sistema Nervoso – Editora Artmed – 2ª. Edição – Porto Alegre – 2002.
 
15. Ver a este respeito a obra de Steven Pinker: Como a mente funciona – São Paulo - Companhia das Letras – 1998. Síndromes médicas e trabalhos de pesquisa da neurociência têm confirmado a existência dos módulos mentais – unidades funcionais especializadas - dando consistência à teoria computacional, ou modular, da mente e à existência dos módulos comportamentais. A teoria computacional ou modular da mente pode também ser denominada de teoria informacional, pois os módulos são definidos em função de como lidam com as informações disponíveis, e não necessariamente pelo tipo de informações colocadas à sua disposição – Pinker, pág. 42.
 
16. Nathanielsz, Peter – A vida do bebê no útero – Ediouro – Rio de Janeiro – 2002.
 
17. Nathanielsz, Peter – acima, pág. 49.
 
18. Nathanielsz, Peter – acima, pág. 28.
 
19. Nathanielsz, Peter – acima, pág. 101 e outras.
 
20. Jung, C.G., Memórias, sonhos, reflexões – 13ª. Edição - Editora Nova Fronteira – Rio de Janeiro – 1975 – pág. 108.
 
 

Por favor, publique módulos na posição offcanvas.