Pela cura total

Publicado em 02.06.1996 no Jornal Gazeta do Povo

A Medicina Psicossomática tem uma história, tão longa que chega a se confundir com a própria história da Humanidade. Há 10.000 anos AC as doenças estavam, para os povos primitivos, intimamente ligadas aos poderes espirituais; há 3.000 anos AC a medicina da Mesopotâmia era psicossomática em todos os seus aspectos; nos templos sagrados de cura da Antiga Grécia só se entendia a cura total do corpo quando primeiro se curava a mente; ainda na Grécia, Sócrates dizia que “(...) é inapropriado curar o corpo sem curar a alma”, e Hipócrates, o pai da medicina, afirmava que para a preservação da saúde era necessária a existência de um equilíbrio entre os sentimentos e emoções (psiquismo) e os componentes bioquímicos e hormonais (corpo), naturalmente, usando os conceitos e linguagem de sua época. Enfim, foi somente na Renascença (1500 a 1700) que a aplicação das ciências naturais à medicina levou à consideração das influências psíquicas sobre o corpo como não científicas; esta visão foi reforçada no século XIX com o avanço dos estudos laboratoriais. Foi somente agora, neste século XX, a partir dos estudos psicanalíticos de Freud, que as influências do psiquismo sobre o corpo voltaram a ser consideradas com maior seriedade.

Uma moderna definição da medicina psicossomática: “é o estudo da correlação íntima entre o psiquismo e as manifestações orgânicas ou funcionais, incluindo reações individuais a certas doenças assim como as implicações pessoais e a conduta social dos indivíduos, motivadas pela doença”. Esta definição, extraída de “Medicina Psicossomática”, de Luiz Miller de Paiva, nos mostra o alcance e a amplitude que está adquirindo a compreensão da inter-relação existente entre o psiquismo e a doença.

No período da Renascença o enfoque psicossomático foi eclipsado pelo avanço do estudo das ciências naturais. Desde então, tal qual uma boa semente aguardando condições ambientais férteis para poder realizar-se, a medicina psicossomática durante longo tempo, por falta de comprovação científica, permaneceu latente; porém, repleta de potencialidades. Hoje com o ambiente fertilizado pelas novas e modernas conquistas na área da bioquímica, através dos neuropeptídeos e da psiconeuroimunologia, a medicina psicossomática está voltando ao palco, agora mais incisivamente, mostrando seus potenciais e sua força. Verifica-se então, hoje, cientificamente, aquilo que há muito tempo é percebido, é sabido intuitivamente, que os sentimentos e emoções têm o seu papel causador, desencadeador e/ou influenciador em praticamente todas as doenças.

Por necessidade classificatória, de estudo, manejo e terapêutica, a medicina em seu desenvolvimento foi compartimentalizando as doenças, dividindo-as em grupos e subgrupos. Assim, uma grande divisão feita foi a de doenças “orgânicas” e “psicossomáticas”. Psicossomáticas eram aquelas em que o componente psíquico aparecia claro, evidente, inegável. Nas outras, como não se mostrava de modo tão claro e evidente o papel do psiquismo, ficou fácil, então, negá-lo e dizer que nada tinham a ver com o mundo interno do psicológico, dizer que eram “orgânicas”. Hoje, com o desenvolvimento dos estudos e pesquisas, já se sabe que inclusive nestas doenças, “orgânicas”, o componente psíquico se faz presente, cobra seu tributo, e seu peso é muitas vezes subestimado. Isto é aceito, hoje, pela maioria dos investigadores.

Vejamos alguns passos desta caminhada: as doenças infecciosas, que classicamente foram utilizadas, pelos defensores da filosofia da etiologia única, organicista, na medicina, para mostrar que nada tinha a ver com o psiquismo. Diziam eles que a etiologia orgânica era inquestionável, já que o agente etiológico era concreto, visível, isolado, identificado, classificado e manipulado. Entre estas doenças as mais comuns são os estados gripais. A imunidade depende das condições psíquicas conscientes e inconscientes; a observação mostra que as pessoas apanham gripe quando os conflitos emocionais estão em evidência e são mais atuantes e, uma vez solucionados, passam longos períodos sem novas gripes, apesar das exposições, do contágio a que se expõem. Há longo tempo, também, é conhecida a importância do fator psíquico na tuberculose, tendo um autor, Wittkower, em 1955, dito que “algumas vezes pode ser mais adequado firmar o prognóstico do paciente na base de sua personalidade e conflitos emocionais que na base das imagens de sua radiografia” (citado por Júlio de Mello Filho, em “Psicossomática Hoje”). Atualmente, a tuberculose é considerada um transtorno psicossomático. É sabido também, que o luto, a depressão, um estado emocional, abre as portas para uma imensa gama de doenças, algumas inclusive fatais. Podemos perguntar ainda, como muitos já o fizeram, por que numa epidemia só algumas pessoas são afetadas?

Os acidentes também são muito usados para negar a psicogênese das doenças. Afinal, onde poderia estar o fator psicogenético numa doença causada por um acidente? Desde a época em que Freud escreveu “Psicopatologia da Vida Cotidiana”, em 1901, que a pesquisa psicossomática tem demonstrado, com base em informações estatísticas, que existem aquelas pessoas que são portadoras de uma predisposição para acidentes. Em 1926 um psicólogo alemão (K. Marbe) mostrou em seu livro “Psicologia Prática dos Acidentes em Geral e dos Acidentes de Trânsito”, que aquelas pessoas que já sofreram um acidente têm mais probabilidade de sofrer novos acidentes, quando comparadas com as que nunca foram vítimas de acidentes. Outro autor, Alexander, em “Medicina Psicossomática”, em 1950, mostra que numa certa cidade americana, num período de seis anos, 36,4% de todos os acidentes aconteceram com um pequeno grupo de 3,9% de pessoas (citado por Thorwald Dethlefsen e Rudiger Dahlke em “A Doença como Caminho”).

Todos estes fatos nos mostram que inclusive naquelas situações que aparentemente nada têm de psicossomático, este componente existe e cobra sua manifestação e nos mostram que nada no contexto da enfermidade humana é casual. Afinal, o aspecto psíquico é intrínseco do ser humano e assim sendo, é onipresente em todas as manifestações humanas, patológicas ou não. Fica fácil então, percebermos a assertividade da afirmação de que praticamente todas as doenças humanas são psicossomáticas, percebermos que a divisão feita entre doenças orgânicas e psicossomáticas é artificial e ilusória, e só é compreensível na medida em que a entendermos como se constituindo no resultado da incompletude e fragmentação do nosso conhecimento. Assim, não existe a possibilidade real de separação corpo-mente, estes dois aspectos do ser humano estão sempre juntos, inseparáveis, um é a sombra do outro; a dimensão física, tridimensional do homem é na verdade uma sombra daquilo que, acontecendo algures, em outros níveis de existência, se projeta, se formaliza e se concretiza no mundo molecular da matéria.

Sabendo que as Essências Florais trabalham as emoções, pensamentos e sentimentos que nos desarmonizam, sabendo que a desarmonização energética se reflete, se sombrifica no corpo físico e que estas sombras se manifestam como doenças, fica claro o seu enorme potencial, principalmente preventivo, mas sem excluir o curativo, de aplicação na área médica. Podemos ver então, que rumos está tomando a medicina do futuro. A unicidade corpo-mente está se fortalecendo e se impondo, na medida mesmo em que o clássico dualismo corpo-mente reinante no império da separatividade vai chegando ao seu final. É, justamente nesta psicossomatização da medicina, que a Terapia Floral se insere para cumprir seu papel, pois o que caracteriza o tratamento com as Essências Florais é justamente a visão integral do ser humano, a compreensão da supremacia dos conflitos psicológicos, conscientes ou inconscientes, no comando das doenças ainda hoje consideradas somáticas. Neste tratamento com Florais, o diagnóstico é essencialmente psicológico, psicodinâmico, a doença física é tomada para fins diagnósticos, na medida em que nos fornece elementos para a compreensão de sua verdadeira função na constelação da dimensão psicológica. Desta forma, busca-se tratar o desequilíbrio emocional ou mental que está causando a sintomatologia física.

Podemos então reafirmar, autorizados pelas descobertas na área da psiconeuroimunologia, que praticamente todas as doenças são, em última análise, psicossomáticas. As Essências Florais constituem-se em métodos de cura eficazes em virtude de conseguirem atuar sobre os níveis hierárquicos superiores, sutis, invisíveis, da fisiologia humana, constituídos pelos sistemas energéticos emocionais, mentais e espirituais. Devemos, portanto, dar passagem e boas vindas para a Terapia Floral, que vêm, com suas Essências, enriquecer o nosso arsenal terapêutico nesta eterna, arquetípica, e muitas vezes dolorosa luta que travamos, como humanidade, contra a doença.

Artigo escrito para publicação no Jornal Gazeta do Povo, onde foi publicado em 02.06.1996, no caderno Viver Bem. É livre para reprodução (tradução ou difusão) total ou parcial, desde que citadas a autoria e a fonte.


Autor: Leocádio Celso Gonçalves
Fonte: http://www.mandras.com.br

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