Capítulo introdutório do Livro "Desenvelhecimento"

Em 1934 Clive M. McCay e colaboradores da Cornell University surpreenderam os estudiosos da biogerontologia com a descoberta de que ratos de laboratório alimentados com uma dieta especial, que recebeu o nome de “subnutrição sem desnutrição” ou “restrição calórica”, diminuíam o ritmo de envelhecimento, tornavam-se mais saudáveis e viviam mais, aumentavam sua longevidade em até o dobro. Outros cientistas reproduziram o experimento de McCay com outros animais, obtendo os mesmos resultados: aumento de longevidade. Em 1987 Roy Walford, famoso biogerontologista da Universidade da Califórnia, iniciou uma dieta de “restrição calórica” depois de ter ele próprio reproduzido a experiência de McCay. Até hoje os cientistas que se dedicam à biogerontologia não conseguiram explicar satisfatoriamente o fenômeno. O eminente gerontologista Leonard Hayflick diz em seu livro “Como e Por Que Envelhecemos” que a descoberta de McCay até hoje desafia a compreensão.

Há algum tempo descobriu-se um fato curioso em relação às abelhas, que elas têm a capacidade de reverter sua idade biológica; assim, as abelhas “velhas” podem, se necessário para a colméia, tornar-se jovens de novo. Sua longevidade, então, é variável, podendo ir de trinta dias a até sete meses, conforme as condições e necessidades da comunidade. A rainha das abelhas, por outro lado, apesar de ser oriunda de ovos idênticos aos das operárias, portanto com a mesma carga genética, por ser submetida a uma dieta especial somente com geléia real por toda a vida, cresce o dobro que as abelhas comuns e desenvolve seu aparelho reprodutor, contrariamente às operárias; e, além disso, aumenta sua longevidade em até 6 anos, ou seja, em até setenta e três vezes mais que a média normal de trinta dias para suas companheiras da comunidade. Esses fatos também têm intrigado os estudiosos do envelhecimento humano, já que mostram que existem na natureza animais que conseguem manipular o envelhecimento e a longevidade, e também constituem mistérios ainda não compreendidos pela ciência.

Em 1979 a pesquisadora Ellen Langer e sua equipe, da Universidade de Harvard, fez uma experiência com um grupo de idosos, todos com mais de 75 anos. Foram submetidos antes a uma bateria de exames físicos e mentais, e foi compilado um perfil geral para cada um dos participantes do grupo com o objetivo de avaliar suas idades biológicas. Na montagem desse perfil foram usadas medidas de força física, postura, percepção, cognição, memória de curto prazo, audição, visão e paladar. A experiência durou uma semana. O resultado foi simplesmente surpreendente: aspectos do envelhecimento antes considerados irreversíveis sofreram reversibilidade, fato constatado pelos rigorosos exames a que foram submetidos antes e depois do experimento. Além dos exames, avaliadores imparciais, que examinaram as fotos dos idosos antes e depois da experiência, acharam as fotos do “depois” como apresentando-os visivelmente mais jovens, em aproximadamente três anos. O grupo de controle não apresentou os mesmos resultados. A autora do experimento atribuiu o sucesso a três fatores, que por estarem sobrepostos a impossibilitou de ter certeza sobre qual deles teria sido o mais importante. Deepak Chopra, em seu livro “Corpo Sem Idade, Mente Sem Fronteiras”, tenta explicar a experiência de Langer através de modificações em aspectos da consciência dos idosos que se submeteram à experiência. Chopra fala, também, de sua experiência com grupos de pessoas que praticavam meditação transcendental. Sua Pesquisa, que levou mais de duas décadas, mostrou-lhe que os praticantes de meditação transcendental tinham suas idades biológicas inferiores às suas idades cronológicas. A diferença variava de cinco a doze anos. Explica os resultados de sua pesquisa por mudanças na consciência dos praticantes de meditação.

Nosso objetivo neste livro é fazer uma tentativa de compreensão e articulação de todos esses fenômenos e experiências a partir da aplicação do raciocínio matemático equacional às associações, que constituem os alicerces da compreensão em ciências comportamentais, as quais são objetos de estudo da psiquiatria e da psicologia. Chamamos esse procedimento de “raciocínio equacional relacional” e o aplicamos aos estudos da nutrição e do comportamento, articulando-os para alcançar uma compreensão dos fenômenos analisados. Tentamos também demonstrar como as articulações dessas variáveis, nutrição e comportamento, estão intimamente associadas às poderosíssimas forças quânticas que, é sabido hoje, estão na base dos processos mentais, emocionais ou intelectuais, que constituem em última análise nossos conteúdos ideativos inconscientes, dos quais nossos conteúdos conscientes e comportamentos são efeitos.

Para lograr nosso objetivo fizemos o que chamamos de “Um Vôo Livre Panorâmico”, passando pelas obras de Hayflick e de Chopra, já mencionadas acima, entre outras. Hayflick era, quando escreveu seu livro, professor na Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia, pesquisador na área de Gerontologia e estudioso do processo de envelhecimento há mais de trinta anos. Chopra foi professor nas Escolas de Medicina das Universidades Tufts e Boston, organizou a Associação Americana de Medicina Ayurvédica, foi designado para o comitê de medicina alternativa dos Institutos Nacionais de Saúde e, quando escreveu seu livro, era membro do conselho consultivo científico da revista Longevity. Escolhemos basicamente esses dois autores porque, sendo ambos altamente gabaritados, como mostram seus currículos, estão em áreas consideradas de certa forma como antagônicas, a ciência tradicional, ortodoxa e a “alternativa”. Em nossa opinião não há realmente antagonismo, trata-se de visões diferentes que se complementam para uma melhor compreensão do ser humano. Infelizmente a irmã “ortodoxa” não vê com bons olhos a irmã “alternativa”, e aí surge o antagonismo. Não nos furtamos também de fazer, em nosso vôo livre, pousos em outros autores, quando necessário um melhor entendimento e articulação de nossas idéias; da mesma forma não nos furtamos às especulações, sempre e quando possível articulá-las com as questões científicas e fenomenológicas sem ferir o bom senso, a lógica e a inteligência.

Como poderá ser visto no corpo de nosso livro, nossas idéias, especulações e abordagem fogem um pouco dos “lugares comuns” normalmente frequentados nos estudos sobre o envelhecimento. Caminhamos por campos associativos novos, totalmente fora dos trilhos convencionais; amparamo-nos aqui, também, em uma idéia expressa pelo próprio Hayflick, na frase “a mente de um cientista precisa estar aberta a novas idéias, por mais heréticas que essas sejam”. Nosso livro destina-se ao público em geral, concordamos com Hayflick e pensamos que a mente de todas as pessoas deve estar aberta a idéias novas, heréticas ou não, e é este justamente o ponto central deste livro: trabalhar a mente do leitor no sentido de abri-la, se já não aberta, para a idéia, se não herética, sem dúvida revolucionária, de que podemos não somente não envelhecer (precocemente), como reverter o processo do envelhecimento precoce (o envelhecimento como hoje o conhecemos, isto é também questão nuclear neste livro, é precoce).

No Capítulo II fazemos considerações a respeito do tempo e da física quântica, mostrando que nossos pensamentos são nosso atributo quântico principal, daí derivando portanto sua força e poder, que podem ser usados, dependendo de suas naturezas mais profundas enraizadas no inconsciente, para a cura ou para a doença. Fizemos também considerações sobre psiconeuroendocrinoimunologia e medicina psicossomática. Tentamos, assim, introduzir elementos para mostrar que o envelhecimento, na forma e nos estágios da vida em que ocorre atualmente, é doença, e não um processo evolutivo normal, opinião hoje defendida por diversos pesquisadores.

No Capítulo III abordamos as Teorias do Envelhecimento, dando destaque aos radicais livres e à questão da nutrição. Tentamos demonstrar, através de análises comparativas entre as afirmações de Hayflick e Chopra, que os radicais livres não são os verdadeiros “vilões” do processo do envelhecimento, mas sim, metaforicamente colocando, os soldados que em toda guerra aparecem, de uma forma ou de outra, nas frentes de batalhas, mas que têm sempre, por trás de seus atos, os generais, que são os articuladores daquilo que fazem. Os generais, os chefes, os comandantes, estão sempre por trás dos atos de seus comandados, e muitas vezes podem não ser, propositalmente ou não, visíveis aos olhos que focalizam apenas ou preferencialmente a superficialidade dos fenômenos (as frentes de batalhas). Da mesma forma, os radicais livres teriam, em nossa visão, algo por trás, algo que tem passado meio despercebido na pesquisa gerontológica, ou melhor, percebido mas não adequadamente compreendido. Pelo estudo comparativo dos dois autores acima citados, mostramos que os radicais livres constituem apenas máscaras debaixo das quais podemos identificar a questão nutricional.

No Capítulo IV aprofundamos um pouco mais o estudo da questão nutricional, introduzindo questionamentos nessa área, questionamentos estes que nos permitem pensar que talvez nos tenhamos desviado do caminho alimentar biologicamente correto para nossos corpos e portanto para nossa saúde e longevidade. Aqui articulamos o que tínhamos visto anteriormente com os estudos de Mário Sanchez e Martina Sanchez em “Medicina Nutricional”.

No Capítulo V, com o auxílio da medicina ortomolecular, aprofundamos o estudo da nutrição, mostrando, através da análise do trabalho de Pat Lazarus, como a questão nutricional se associa intimamente com a questão comportamental e as consequências que isto implica para a questão do envelhecimento.

O Capítulo VI, sobre a Bíblia, destina-se a dar embasamento a idéias que serão defendidas adiante em nosso trabalho. Dedicamo-nos neste capítulo às obras de três autores, um brasileiro, Christian Chen (professor de Física Nuclear da USP quando escreveu seu livro “Os Números na Bíblia”, em 1986), Michael Drosnin (repórter americano, autor de “O Código da Bíblia”, em 1997) e Jeffrey Satinover (médico psiquiatra, americano, autor de “A Verdade por trás do Código da Bíblia”, em 1998). Esses estudos cumprem o objetivo de demonstrar que não podemos desconsiderar o texto aberto bíblico quando fala, em Gênesis, da longevidade dos patriarcas pré-diluvianos, de quase 1000 anos. Mostramos a seguir, com o auxílio dos estudos dos irmãos Sanchez, como a questão do envelhecimento e da longevidade podem articular-se, na Bíblia, com a questão nutricional.

No Capítulo VII, analisamos algumas experiências de rejuvenescimento encontradas na literatura. Através da análise de uma pesquisa feita por Chopra, que é apenas citada em seu livro, mostramos que ela é, de fato, portadora de uma descoberta que, plenamente compreendida, mostra-se revolucionária na gerontologia, na medida em que carrega em seu bojo a possibilidade do aumento de 95% da longevidade humana considerada máxima pela ciência oficial, de 120 anos. Demonstramos por meio do desenvolvimento da análise da experiência de Chopra que esta trouxe a possibilidade do aumento da longevidade humana para até 234 anos. A seguir analisamos a experiência de Ellen Langer, demonstrando como ela própria avaliou erroneamente, no sentido da interpretação, os fatores determinantes dos resultados de sua experiência; melhor, mostramos o quanto ela avaliou corretamente, mas não percebeu que o fez! Mostramos que a questão comportamental é que estava por trás do sucesso de sua experiência.

A seguir fizemos uma análise do “mistério das abelhas”, desenvolvendo uma explicação para o fenômeno, explicação esta que mostramos como pode articular-se perfeita e harmoniosamente com as experiências de Langer e de Chopra. Depreende-se de nosso trabalho que Chopra, por trabalhar em cima da questão da consciência, não pôde compreender o rejuvenescimento das abelhas, já que consciência, no sentido usado por ele, tem uma definição conceitual aplicável a nós humanos, mas não às abelhas. Por outro lado, identificamos um denominador comum, aplicável tanto às abelhas quanto aos seres humanos. Para reforçar este nosso raciocínio fizemos um pouso na obra de Peter Kelder, “A Fonte da Juventude”, e mostramos a atuação, também, do denominador comum por nós identificado.

No Capítulo VIII trabalhamos sobre o motivo explícito, no livro de Kelder, pelo rejuvenescimento do Coronel Bradford, o personagem principal. Mostramos que estudos contemporâneos dão validade às causas apontadas pelo Coronel Bradford como as responsáveis pelo seu rejuvenescimento.

O Capítulo IX forma um conjunto com o capítulo sobre a Bíblia e o intitulado Anatomia Invisível, que se destina a dar embasamento a idéias que defenderemos de modo mais explícito no Capítulo “No Limiar da Compreensão”, as quais pareceriam, sem o devido embasamento, exageradas ou mesmo fora da realidade. Estes capítulos criam, assim, de modo mais específico, mas sempre inserido no todo do livro, um contexto de, se não aceitação, pelo menos compreensão de tais idéias. O Capítulo IX, por tratar de um tema altamente polêmico, mas importante no contexto global de nosso livro, é rico em informações que, se por um lado são importantes, por outro o tornam de certa forma mais árido para a leitura. O leitor menos exigente, ou menos curioso, ou mais apressado, poderá, se quiser, saltar as partes mais áridas, sem prejuízo para o entendimento global da idéia central do livro.

No Capítulo X tentamos fazer uma demonstração ratificante de como os radicais livres se associam à questão nutricional, voltamos à questão da “restrição calórica” e “subnutrição sem desnutrição”, mostramos que são conceitos que não podem ser aplicados, com precisão, à experiência de McCay com os ratos, e que foi justamente essa falta de precisão conceitual que impediu a correta compreensão da sua experiência. A mesma imprecisão conceitual tem travado o entendimento da “restrição calórica” aplicada aos seres humanos; esses pontos esclarecidos permitiram-nos a criação do conceito de “disnutrição”. Tivemos aqui condições de compreender melhor, com o auxílio dos desenvolvimentos acumulados, a questão comportamental e sua associação com a nutrição e com o rejuvenescimento. A seguir examinamos a questão da longevidade da rainha das abelhas, identificando uma variável sutil, comportamental, que juntamente com a nutrição (geléia real) é responsável pelo incrível aumento de sua longevidade Essa compreensão abriu caminho para o entendimento das síndromes de envelhecimento precoce (progérias), que podem assim ser compreendidas desde a óptica nutricional; a outra variável, comportamental, aqui, fica pendente de identificação, já que podemos supor, por tudo que vimos, que também deve existir. Finalmente, pudemos ver como as forças quânticas articulam-se perfeitamente com as questões nutricional e comportamental, já que estas se relacionam equacionalmente, como vimos ao longo de nosso trabalho.

No Capítulo Conclusivo pudemos, por fim, mostrar como se articula a experiência de McCay com a experiência do Coronel Bradford em “A Fonte da Juventude”, e também com um livro escrito no século XVI por Luigi Cornaro que, veremos, tornou-se referência quase obrigatória nos estudos sobre envelhecimento. Feito isso pudemos partir para uma interpretação compreensiva do porquê da não-compreensão, até hoje, em nível individual e institucional, das verdadeiras causas do envelhecimento, apesar da disponibilidade, na literatura, dos elementos necessários para tanto. Esperamos, sinceramente, estar contribuindo com este livro para lançar alguma luz no processo do envelhecer.

Autor: Leocádio Celso Gonçalves

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