A força das emoções

Publicado em 28.04.1996 no Jornal Gazeta do Povo

Pode-se verificar nos livros mais modernos de Psiquiatria e Medicina Psicossomática, que há nestes textos um capítulo novo sendo incluído. É o capítulo que trata da psiconeuroimunologia. Como o próprio nome revela, este estudo clarifica as vias de interação existentes entre os sistemas psíquico (psico), neurológico (neuro) e imunológico (imunologia). É pois, um estudo que está conquistando e consolidando seu espaço no seio da medicina oficial, tendo mesmo, nascido de seu próprio corpo.

A articulação é a ponte que pode ser construída entre a Psiconeuroimunologia ou Psicoimunologia, como também é chamada, e a Terapia Floral. Estes dois campos do conhecimento humano podem se articular de uma forma perfeita, complementar e harmônica.

O desenvolvimento histórico da Psiconeuroimunologia, e dos pensamentos que a antecederam no meio médico teve seu terreno mais fértil com o câncer e as emoções associadas ao mesmo. A história nos mostra que Hipócrates (460 a 377 a.C.), considerado o pai da medicina, dizia que a saúde necessitava, para sua manutenção, entre outros fatores, do equilíbrio entre os vários componentes da natureza humana. Estes componentes, dividia-os em “humores” e “paixões”. Quando falava em humores, se referia àquilo que hoje chamamos de equilíbrio químico e hormonal; por paixões denominava o que para nós constituem o emocional e mental. O conceito hipocrático de cura era o de que forças curativas inerentes aos organismos vivos é que agiam neste sentido, sendo o papel do médico o de auxiliar os pacientes a realizarem, ativarem estas forças que haviam em potencial dentro deles.

No século segundo depois de Cristo, Galeno (138 a 201 d.C.), já referia a existência de problemas de ordem psicológica em doentes com câncer. Apesar desta percepção, provavelmente pressionado pelo contexto em que vivia, Galeno desenvolveu uma técnica voltada para a obtenção de efeitos imediatos, sintomática portanto, antagonizando-se assim com o ideal hipocrático. Este modelo Galênico, sintomático, impulsionado pela força de seu criador, é o modelo que prevalece até hoje no mundo moderno, apesar de grandes nomes da medicina, entre os quais Paracelso (1491 a 1541), terem lutado pelo renascimento do grande mestre grego.

Em épocas mais recentes vários pesquisadores tem demonstrado através de diversos trabalhos e pesquisas independentes, o papel fundamental que desempenham as emoções no desencadeamento e/ou gênese, ou ainda na evolução das diversas patologias que nos afligem. Em 1975, dois pesquisadores (Amkraut e Solomon), publicaram uma monografia que tornou-se clássica, na qual, após estudarem as fases da resposta imunológica, fazem a correlação do câncer, das doenças bacterianas, das disfunções do sistema imune produzidas pelo estresse, das doenças alérgicas e autoimunes. Verificaram que fatores psicológicos podem provocar mudanças imunitárias, mediadas por alterações no sistema endócrino.

Outro evento associado ao nascimento oficial da Psiconeuroimunologia foi o vôo espacial de uma das naves da missão Apollo da Nasa, em que após um acidente, uma explosão a bordo da nave, criou-se uma situação extremamente delicada, pois o acidente punha em risco sério a possibilidade de retorno da nave. Como todos sabemos, os astronautas têm, quando em missão espacial, todas suas funções vitais, metabolismo e bioquímica, monitoradas à distância. Também sabido é que é exigido deles uma higidez quase perfeita para poderem subir ao espaço. Pois bem, por ocasião da explosão os astronautas entraram em estresse, pois se viram subitamente diante da possibilidade de ficarem “enterrados” no espaço para sempre, visto que sabiam que viveriam apenas o tempo de suficiência de suas reservas de oxigênio e alimentares. Dois dos astronautas (eram três), fizeram quadros gripais e o monitoramento de suas funções em terra acusou para os três, uma queda em seu sistema imunológico. Verificou-se então, de modo inequívoco, que os sentimentos, as emoções (medo, insegurança, pavor, desespero, ansiedade), têm a capacidade de produzir uma redução na quantidade e qualidade das defesas naturais do organismo contra infecções e doenças. Estas defesas naturais são funções do sistema imunológico. Ficou clara então a influência, a interrelação existente entre psiquismo, o mental no seu sentido mais amplo, com o biológico, fisiológico, representado aqui pela imunologia. Faltava apenas descobrir como se operava essa integração entre esses dois sistemas. Fácil foi verificar a mediação do sistema neurológico, através de seus neurotransmissores e peptídeos; fácil foi verificar que o que pensamos e sentimos é imediatamente projetado no campo molecular, no padrão dos neurotransmissores e peptídeos.

Assim, hoje sabemos que o estresse produz substâncias que suprimem a atividade daquelas células componentes do sistema imunológico chamadas células NK (Natural Killers), as quais desempenham importantíssima função na primeira frente de defesa do organismo, destruindo, matando (daí sua denominação de “células assassinas”) células neoplásicas, bactérias e vírus. Quando às células neoplásicas, sabe-se hoje que sempre existiram, sempre existem no organismo, o câncer se desenvolve quando a atividade das células NK, que as destroem, está deprimida.

Esta interrelação já era sabida por médicos ilustres do passado mais distante e mais recente. Já há algum tempo que estudiosos do psiquismo humano nos falam da influência do emocional e mental na causação e/ou evolução das doenças, mas nunca se havia descoberto a base fisiológica de tal influência. Com o descobrimento desta base, pôde então, após logo tempo de gestação, ser parida a Psiconeuroimunologia. A partir daí, numerosos cientistas passaram a fazer pesquisas, confirmando esta interrelação, mostrando que também inversamente, sentimentos alegres e prazerosos têm a capacidade de reforçar positivamente nosso sistema imunológico.

Assim, nossas células imunes ganham força e vigor quando, por exemplo, assistimos a um filme alegre ou que expresse sentimentos nobres e altruístas, enfim, quando vivenciamos a felicidade ou expressamos o amor. Desta forma, cada vez mais o conceito da unidade corpo-mente foi se fortalecendo. Por outro lado, a filosofia médica oficial assentada na separatividade, no dualismo corpo-mente, que tem sua base cartesiana, foi atingida em seus alicerces fundamentais, e o golpe veio de seu próprio seio, mostrando que seu desenvolver se processa de uma forma que se poderia dizer, é autofágica, destruindo, com a evolução, seus dogmas anacrônicos para assim possibilitar o surgimento do novo.

Nossa vulnerabilidade às infecções e doenças de modo geral depende diretamente de nosso estado emocional. Somos mais ou menos vulneráveis quanto mais ou menos desequilibrados estamos emocionalmente. Se olharmos brevemente para as emoções que nos desequilibram negativamente, veremos o medo, a insegurança, a raiva, a timidez, o mau humor, a tristeza, etc. Façamos agora, de posse destes dados, um raciocínio simples: se temos uma doença qualquer e a tratamos apenas alopaticamente, ou cirurgicamente, estamos removendo, em última instância, apenas o resultado final de um processo que começou em outro nível que não o corporal, isto é, no nível emocional/mental. Assim sendo, medicamentos para câncer, úlcera, ansiedade, analgésicos, relaxantes musculares, etc.; todos, embora tenham seus méritos e indicações, não passam de paliativos, uma vez que não atingem o nível causacional das doenças, o nível emocional ou mental. Uma hipertensão, por exemplo, causada por sentimentos não aceitos, não simbolizados, de raiva ou ódio, tratada apenas com medicamentos anti-hipertensivos, não está sendo tratada no nível dos sentimentos, conscientes ou inconscientes, causadores da mesma. Estamos assim, suprimindo um sintoma e não atuando na força que o gera, forçando esta a se redirecionar, se desviar, procurar outro caminho de manifestação, de escape, que poderá ser outra doença psicossomática, ou uma ansiedade, difusa ou projetada para um objeto específico, interno ou externo, ou poderá ainda vir a reforçar transtornos neuróticos, de comportamento ou de caráter já estabelecidos. A energia psíquica reprimida busca sempre uma via de expressão.

Estamos então, aptos para podermos ver o papel fundamental que desempenham as emoções na gênese das doenças humanas. Sabendo que as essências florais agem fundamentalmente a nível emocional e mental, não podemos deixar de perceber a importância que adquirem estes medicamentos diante das novas descobertas da Psiconeuroimunologia. Não podemos deixar de perceber o enorme potencial que tem a Terapia Floral, atuando a nível causal e não meramente sintomático, no campo da medicina preventiva, pois a mesma se insere no contexto psiconeuroimunológico como um tratamento que atinge as causas das doenças, desta forma podendo então evitar que elas se desenvolvam e se cristalizem como alterações funcionais, bioquímicas e lesionais.

Não podemos, ainda, deixar de perceber que a Terapia Floral age no sentido de equilibrar os “vários componentes da natureza humana”, os humores e paixões no dizer hipocrático. Neste sentido, as essências florais vêm também resgatar, agora de mãos dadas com a medicina oficial, através da Psiconeuroimunologia, o ideal do grande mestre Hipócrates, na medida em que por seu mecanismo de ação, equilibrando o ser humano, auxilia os doentes a realizarem o potencial de suas próprias forças internas de cura. A lição nos ensinada há cerca de 2.500 anos por Hipócrates é, agora, novamente, nos apresentada, desta vez pelas descobertas da ciência moderna. Que possamos, desta vez, finalmente, aprendê-la. Percebemos, agora no contexto da Psiconeuroimunologia, quão sábia e visionária foi a afirmação Bachniana quando disse que as essências florais seriam, não obstante sua aparente simplicidade, a medicina do futuro!

Artigo escrito para publicação no Jornal Gazeta do Povo, onde foi publicado em 28.04.1996, no caderno Viver Bem. É livre para reprodução (tradução ou difusão) total ou parcial, desde que citadas a autoria e a fonte.

 

Autor: Leocádio Celso Gonçalves

Fonte: http://www.mandras.com.br

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